Cineastas pedem ao Governo que não deixe "desaparecer" salas de cinema português de Lisboa
Fernando Vendrell, da Associação de Produtores de Cinema e Audiovisual, destaca, em declarações à TSF, que o Monumental é uma sala com história, sendo necessário manter o seu valor cultural, até porque o espaço para o cinema português nos centros comerciais "é muito limitado".
Corpo do artigo
Em defesa do cinema Monumental, um grupo de personalidades do setor do cinema juntou-se, esta terça-feira, para pedir soluções, numa carta dirigida ao ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, - publicada no jornal Público, para o espaço que encerrou.
A empresa dona do Monumental - que agora alberga um banco - enviou um requerimento ao Ministério da Cultura para poder acabar com as salas de cinema inativas e usar o local para outras funções.
Ouvido pela TSF, Fernando Vendrell, da Associação de Produtores de Cinema e Audiovisual - e um dos assinantes da carta - sublinha que, se não se salvarem salas com o Monumental, o cinema fica restringido aos centros comerciais e isso tem perigos.
TSF\audio\2023\08\noticias\29\fernando_vendrell_1
"Os espaços para o cinema português, para o cinema europeu, dentro dos centros comerciais, é muito limitado", sublinha Fernando Vendrell, explicando que a programação nestas infraestruturas é "massiva e muito agressiva".
"O Monumental é um caso exemplar do que nós temos assistido na cidade de Lisboa: ao desaparecimento das salas de cinema portuguesas da cidade, ao afastamento dos públicos das salas de cinema e a uma monocultura de programação das salas de cinema dos multiplex para um cinema americano massivo", afirma.
TSF\audio\2023\08\noticias\29\fernando_vendrell_2
O cineasta destaca assim que o Monumental é uma sala com história e que é necessário manter o valor cultural do espaço.
"Quando foi vendido, tinha a obrigatoriedade de ter uma sala de cinema e uma sala de teatro", defende, afirmando que foi neste espaço que viu "Lourenço da Arrábida" e que, quando jovem, via "Laura Matos nos cartazes".
"Havia uma obrigação de uma valência cultural. O próprio mecenas BPI poderia abrigar e acolher uma sala de cinema, uma sala de programação cultural, e, portanto, as reivindicações das pessoas que estão juntas nesta missiva, é um alerta. É um alerta para que não deixem a cidade desaparecer do ponto de vista cultural", insiste.
TSF\audio\2023\08\noticias\29\fernando_vendrell_3
Fernando Vendrell aponta responsabilidades à tutela, mas também à Câmara de Lisboa, que considera ter o dever de garantir essa valência cultural do espaço. Até porque, de acordo com o cineasta, haverá operadores interessados em tomar conta da sala.
"Não havendo nenhum concurso público para essa exploração, parece que não há ninguém oficialmente. Mas acho que há, de certeza, pelo menos duas entidades que se mostraram interessadas, mas o contacto que tiveram foi frustrante ou resposta nenhuma e, portanto, não puderam avançar", denuncia, afirmando que "tem de haver espaço para haver essas negociações para saber o que é que se pode fazer".
O Ministério da Cultura está, até ao final do mês, a ouvir várias entidades do setor para tentar encontrar soluções.
Contactado pela TSF, o gabinete de Pedro Adão Silva, ministro da Cultura, reafirma que só em setembro poderá haver novidades sobre a decisão a tomar.