"Vilarinho das Furna", filme de António Campos, é projetado esta noite, em Campo Gerês, para levar às novas gerações a memória da aldeia comunitária que desapareceu e que deu origem a uma barragem ainda nos tempos da ditadura.
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Quando mais logo forem 20h30, no que sobra da aldeia submersa de Vilarinho da Furna, no Gerês, far-se-á silêncio para ver e ouvir o documentário de António Campos que retrata os últimos meses de vida desta aldeia comunitária e que foi submersa ainda na ditadura salazarista para dar origem a uma barragem.
Num filme bastante inovador à época, António Campos filmou os últimos registos, transmitidos de viva voz, das gentes que ali viviam e viram a sua terra desaparecer afundada pelas águas.
Agora, 53 anos depois, a Cinemateca Portuguesa resgata esta memória. "É a possibilidade de nós podermos levar um filme às gerações que ouviram falar de uma aldeia que entretanto desapareceu, às gerações de um território que se construiu nas ruínas de uma resistência, e trabalhar, por isso, na devolução de uma memória coletiva, esperando que o cinema possa resgatar e lembrar as vidas daqueles que foram absolutamente ignorados nos seus próprios destinos", diz à TSF Tiago Bartolomeu Costa, da Cinemateca Portuguesa e responsável pelo projeto FILMar.
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"António Campos filma como se fosse o último momento da vida, não só daquelas pessoas, mas de um país que estava a desaparecer, um país que vivia ainda em ditadura mas que, no interior do interior desse país em ditadura, muitas vezes, as coisas eram bastante mais difíceis", sublinha.
Além da projeção em sessão gratuita e ao ar livre no Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, a Cinemateca faz saber que vai continuar no local entre 1 e 4 de outubro com sessões educativas, em Terras de Bouro, "com o objetivo de aumentar a visibilidade da riqueza do património cinematográfico português e promover, junto dos públicos mais jovens, o cinema enquanto ferramenta para o conhecimento, a aprendizagem, a cultura e o saber".
Já no âmbito de um projeto da Associação das Cinematecas Europeias, o filme vai estar disponível para visualização na página da Cinemateca Portuguesa, até 4 de outubro, como forma de levar o património cinematográfico a públicos estrangeiros.