O presidente do Conselho Nacional de Educação diz que os chumbos nas escolas são o maior problema do atual sistema educativo. Para combater esta situação, o órgão consultivo do governo recomenda uma diminuição gradual das reprovações no ensino básico e secundário.
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Um relatório do Conselho Nacional de Educação conclui que os chumbos potenciam comportamentos indisciplinados, promovem baixa autoestima dos alunos e dificultam ainda mais a aprendizagem.
David Justino, diz que é preciso encontrar outras formas para recuperar os alunos com piores notas.
O presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) defendeu hoje que a avaliação com base nas notas dos exames tem «um efeito de influência» na avaliação dos alunos ao longo do ano, que «é necessário evitar».
David Justino considera que «é preciso evitar que a avaliação interna seja um processo de sucessão de notas de exames e testes», sublinhando que «há outras formas de avaliar» e que a avaliação interna «deve ser preferencialmente formativa», e sem «sacrificar uma avaliação à outra», uma vez que devem funcionar numa lógica de complementaridade.
Na recomendação hoje aprovada por unanimidade pelo CNE, este órgão refere-se a uma «cultura da nota», que desvaloriza os «processos que promovem as aprendizagens», dando como exemplo uma prática que gostaria de ver revista: «a afixação pública e obrigatória das pautas com 'notas' individuais e nominais, decorrentes da avaliação interna, sob o pretexto da transparência, mas com questionáveis efeitos na perceção dos resultados por parte dos alunos e das famílias».
«De notar que este procedimento, ao invés de ser revisto, está a estender-se aos primeiros anos de escolaridade, onde a avaliação tinha um caráter individual e descritivo», acrescenta o texto do CNE.
David Justino defendeu hoje ainda que as elevadas taxas de retenção de alunos em Portugal estão a prejudicar os resultados do país em testes internacionais como o PISA, da OCDE: «Outros países com resultados semelhantes aos nossos têm taxas de retenção mais baixas».
Para o também ex-ministro da Educação, a acumulação de repetências de ano «é potenciadora da degradação do ambiente escolar», refletindo-se na indisciplina e no abandono precoce, considerando a meta europeia de ter 10% de abandono escolar em 2020 «um objetivo difícil de atingir».
David Justino questionou ainda os benefícios de obrigar um aluno que repete um ano por ter chumbado a algumas disciplinas a frequentar todas as disciplinas novamente.
O presidente do CNE recusou ainda estabelecer qualquer «relação direta» entre os exames de final de ciclo e as taxas de retenção, até porque, se no 6.º ano de escolaridade os exames recentemente instituídos podem ajudar a explicar as elevadas taxas de retenção, o mesmo já não se aplica para o 8.º ano, um daqueles em que os 'chumbos' aumentaram «de forma significativa».