Coelho-bravo em risco de extinção em Portugal. Ainda não há financiamento para recuperar a espécie
O projeto LIFE Iberconejo, que está a terminar, tem estudado a espécie desde há quatro anos em Portugal e Espanha
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"Em Portugal a espécie diminuiu drasticamente, até 90%, em 15 anos", informa Ramón Pérez de Ayala. Ramón pertence ao WWF de Espanha e é o coordenador do projeto Iberconejo, que desde há quatro anos estuda o estado em que se encontram as populações de coelho-bravo nos dois países.
Desde há vários anos que o coelho-bravo em Portugal está ameaçado. Porquê? Devido à mudança no uso dos solos, mas sobretudo por duas doenças que têm dizimado a espécie. "A mixomatose era uma doença que tinha graves problemas, porque debilitava muito o animal na sua capacidade de deslocamento, alimentação e defesa", explica à TSF o diretor regional do Alentejo do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). Mas a seguir surgiu outro vírus ainda pior: "A hemorrágica viral, que é uma doença que surge posteriormente, é muito fulminante", adianta José Calado.
A espécie é considerada fundamental para os ecossistemas ibéricos e está a ser estudada pela WWF e pelo ICNF através do projeto LIFE Iberconejo. Em Faro, até dia 3 de abril, está a decorrer o Seminário Internacional do coelho-bravo, onde estão reunidos cerca de 200 investigadores. O evento marca o encerramento do LIFE Iberconejo (termina em junho) e a intenção é encontrar estratégias para continuar a monitorização e a recuperação das populações de coelho-bravo.
Se no país vizinho há regiões onde a situação começa a estar regularizada, no caso de Portugal não está a ser fácil recuperar esta espécie. "Neste momento, acredito que ela começará a estabilizar nalguns sítios do Alentejo e Algarve, mas no Alentejo central quase não se vê população [de coelhos-bravos]", assinala José Calado.
Ramón Ayala, o coordenador ibérico do projeto, explica que no resto do país a situação é ainda pior. "Nas outras três regiões acima, até ao Norte” quase não se avista esta espécie.
O diretor regional do Alentejo do ICNF considera que é preciso ajudar o coelho-bravo a não desaparecer, construindo abrigos para os animais mais debilitados e semeando comida que lhes dê alimento. Como na natureza tudo está ligado, se não há coelho-bravo para outras espécies terem alimento, elas começam a atacar os animais dos agricultores. "Os linces ou a águia-imperial, que já têm populações muito fracas e muito débeis, se lhes começa a faltar o alimento, começam a atacar outros e também lhes tende a faltar o alimento para elas estabilizarem enquanto espécie", enfatiza José Calado.
Ramón Ayala conta que, no ano passado, apresentaram um projeto para criar num único município um estudo mais aprofundado para a reabilitação da espécie, mas a ideia foi chumbada pela União Europeia. "A importância que [o coelho] tem na Península Ibérica não tem noutras zonas da Europa e do mundo", afirma igualmente. "É difícil conseguir financiamento e tentar explicar a importância tão relevante que a espécie tem", lamenta.
Quase a terminar o projeto e ainda sem financiamento para desenvolver mais estudos sobre o coelho-bravo nos próximos anos, apesar de tudo os investigadores não pretendem desistir de uma espécie que consideram ser fundamental para o ecossistema.