"Coisas um bocado antigas." O relato do padre que presidiu à missa LGBT interrompida por "ultraconservadores"
Um grupo de dez pessoas, "rapazes e raparigas" com cruzes e véus, tentou sabotar uma missa LGBT celebrada na Ameixoeira. O padre que a presidiu garante que não houve confrontos e responde com as palavras do papa: "A Igreja é de todos."
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Quando o padre dominicano José Nunes começou a celebrar, na Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Encarnação da Ameixoeira, em Lisboa, uma missa promovida pelo Centro Arco-Íris, um espaço seguro para católicos LGBTQIA+ na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, não deixou de dar conta de um grupo de "dez pessoas" que se faziam notar. Tanto, que a polícia haveria de os retirar dali.
José Nunes conta à TSF estava ali porque um grupo "não muito numeroso de cristãos ligados ao LGBT" quis ter alguns momentos "um pouco próprios, só deles mesmo", e um deles era a missa que estava prestes a celebrar.
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"Quando começámos, também havia um pequenino grupo, não sei, para aí de umas dez pessoas, creio que não seriam mais: jovens, homens e mulheres, rapazes e raparigas". Pensa que seriam "todos portugueses" e de uma "sensibilidade bastante conservadora". Até vai mais longe: "Há gente que diz que são ultraconservadores. Sim, acho que sim, acho que são ultraconservadores."
Eles, os rapazes, apresentavam-se "com cruzes na mão levantadas um bocado ao alto" e elas, as raparigas, usavam "uns véus que tapavam desde a cabeça quase até a cintura ou até aos joelhos". Comenta o padre que eram "umas coisas realmente um bocado antigas".
Até começar a missa "eles estiveram em silêncio, sempre de pé", no interior da igreja. Mas quando a celebração arrancou, "começaram a rezar, em latim, o Pai Nosso e a Avé Maria".
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José Nunes prosseguiu. Fez a saudação inicial porque, "como tinha microfone", conseguia que a sua voz se sobrepusesse "às vozes deles" e aproveitou para transmitir uma mensagem de calma.
"Tranquilizei logo as pessoas todas de que não ia haver problema nenhum, que íamos poder rezar à vontade." Esta certeza, conta, nascia da precaução da comunidade LGBT que, prevendo que "este tipo de problemas" pudesse acontecer, "tinha avisado a polícia, a PSP".
Fruto disso, "havia ali um ou dois polícias à paisana e, muito perto da Igreja, polícias fardados". A proximidade era tal que, "passado um minuto" da tentativa de perturbar aquela missa, "a polícia veio".
"Tirou as pessoas de lá e pronto, a gente continuou a rezar a missa normal", conta o padre, que nega quaisquer confrontos, "nem da polícia, nem deles".
Sem ligar muito ao sucedido, conta que quando leu, logo às 7h00, as palavras do papa Francisco na Cerimónia de Acolhimento da última tarde, percebeu a mensagem que há a passar e nelas se inspirou para responder à situação.
"Olhe, realmente, a única coisa que há a dizer é isso, é o que o papa repetiu não sei quantas vezes: a Igreja é de todos, de todos. É dos jovens, é dos velhos, é de doentes, é de pessoas com saúde, é de justos, é de pecadores, é dos de orientação deste tipo e é dos de orientação assado. A Igreja é de todos", e mais não tem a dizer.