Com fama de 'durão' e defensor da geringonça. Pedro Nuno Santos luta pelo 'lugar de sonho' à frente do PS
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O ex-ministro das Infraestruturas e Habitação Pedro Nuno Santos apresenta, esta segunda-feira aos 46 anos, a candidatura a secretário-geral do PS. Nos corredores socialistas é conhecido pela frontalidade e por não ter medo do confronto. Duas características de um percurso político que começou a construir-se na adolescência, vivida em São João da Madeira.
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Juventude Socialista, a rampa de lançamento
Começou a dar os primeiros passos no mundo político com 14 anos, liderou a Juventude Socialista entre 2004 e 2008, sob a liderança de José Sócrates no partido, período em que se destacou por defender, por exemplo, a legalização do aborto. Em 2005 entrava no Parlamento como deputado, eleito pelo distrito onde nasceu, Aveiro. Foi apoiante e depois opositor do ex-líder António José Seguro e chegaria a vice-presidente do grupo parlamentar do PS mais tarde. Foi neste cargo, em 2011, que já deixava marca.
"Estou-me marimbando para os nossos credores, estou-me marimbando para o banco alemão que emprestou dinheiro a Portugal nas condições em que emprestou", afirmou, na altura, Pedro Nuno Santos.
O discurso foi num jantar de Natal do PS em que Pedro Nuno Santos queria dar uma prenda aos credores alemães e franceses.
"Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos. E se nós não pagarmos a dívida e se lhes dissermos, as pernas dos banqueiros alemães até tremem", ameaçou o então vice-presidente do grupo parlamentar do PS.
A ambição do socialista é que não tremia e, em 2015, pela mão de António Costa, era nomeado o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. Liderou, por essa altura, o derrube do muro que dividia PS e os partidos mais à esquerda, conduzindo à geringonça que sempre defendeu mesmo quando acabou.
"Esta solução funcionou pelo tempo, que foram seis anos, e funcionou pelos resultados", argumentou na altura.
De mãos dadas com polémicas
Dois anos antes, em 2018, já destapava a verdadeira ambição política. Numa entrevista revelava que só lhe faltava ser secretário-geral do PS. Certo é que no ano seguinte, Costa puxava-o para o Ministério das Infraestruturas e para lidar com um turbulento aeroporto.
Em junho do ano passado teve o seu lugar como ministro em risco pela primeira vez depois de uma "falha na articulação com o primeiro-ministro" nas decisões que envolveram o futuro aeroporto da região de Lisboa.
"Esta situação criada, fruto de erros de comunicação e articulação dentro do Governo, são da minha inteira responsabilidade", assumiu Pedro Nuno Santos, afirmando, logo a seguir, que "obviamente" se mantinha em funções.
Responsabilizou-se por ter decidido sozinho a localização do novo aeroporto de Lisboa, mas não se demitiu apesar do puxão de orelhas de António Costa.
"Houve um erro grave, o ministro já o assumiu, teve oportunidade para falar comigo. Está corrigido o erro, portanto agora é seguir em frente", disse Costa na altura, após a polémica.
Acabaria por deixar o Governo seis meses depois. Demitiu-se com a polémica indemnização a Alexandra Reis, então administradora da TAP. A companhia aérea chegou a receber do Estado 3,2 mil milhões de euros e o lucro valeu um trunfo a Pedro Nuno Santos.
"Não há mais nenhum Governo e não há mais nenhum ministro nos últimos 50 anos que se possa gabar de ter deixado as suas funções com a TAP e a CP a dar lucro", sublinhou o ex-ministro das Infraestruturas.
O plano ferroviário e a crise da habitação foram outros dossiers difíceis, tal como a polémica gerada com a participação de 0,5% na empresa do pai.
"A única questão aqui que obviamente me revolta é que estive três anos a achar que estava bem. Foi porque em 2019 o entendimento era de que a minha situação estava sanada, estava correta e não havia incompatibilidade", argumentou na altura.
Nada ficou provado, mas o mesmo não se pode dizer da visão mais à esquerda que tem dentro do PS. Para muitos, bem provada.
"Nunca foi tão importante ser socialista como é hoje", chegou a dizer Pedro Nuno Santos.
A entrada para o lugar de sonho está agora aberta para um homem formado em economia pelo ISEG e há muitos anos no centro do PS com a ambição de o liderar. Uma ambição que se transforma esta segunda-feira em candidatura.
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