Comemorações de Abril evocam "momentos centrais da construção da democracia", com primeiras eleições livres como destaque
A história da democracia de Portugal vai ser assinalada com exposições, colóquios, campanhas educativas, projetos escolares e espetáculos
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O grande destaque das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril deste ano são mesmo as primeiras eleições livres, mas no programa da comissão não ficam esquecidos outros "momentos centrais", como são exemplos a tentativa de golpe a 11 de março de 1975 e até o polémico 25 de Novembro. Para o ano de 2025 são esperadas uma série de iniciativas que incluem, desde logo, a realização de uma sondagem sobre a descolonização.
É no ano de 2025 que a comissária executiva e historiadora Maria Inácia Rezola lembra o dia 25 a que o Abril original - o de 1975 - deu espaço: "Pela primeira vez no dia 25 de Abril de 1975 realizaram-se eleições livres, universais e concorrenciais em Portugal. O corpo eleitoral acorreu em massa à chamada ao voto, com um dado inédito: 92% dos inscritos votaram."
As eleições para a Assembleia Constituinte, em 25 de abril de 1975, foram as primeiras eleições livres em Portugal depois de 48 anos de ditadura e escolheram os deputados que fizeram, no ano seguinte, a Constituição Portuguesa. Maria Inácia Rezola revela que este é o marco central das comemorações deste ano, mas garante que há vários momentos da história que vão ser evocados.
"Iremos invocar a celebração das independências das ex-colónias e alguns momentos centrais neste processo de construção da democracia, como foram o 11 de março, o Verão Quente e o 25 de Novembro. Isto vai-nos permitir entender a importância da aprovação do novo texto Constitucional em Abril de 1976 e o ciclo eleitoral que se lhe seguiu: as primeiras eleições livres legislativas, presidenciais, regionais e, a 12 de dezembro de 1976, as primeiras eleições livres autárquicas de todos os tempos da história de Portugal", adianta.
Estes momentos vão ser assinalados com exposições, colóquios, campanhas educativas, projetos escolares e espetáculos. Um dos destaques é mesmo a exposição que vai ser inaugurada na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no dia 22 de abril. Pedro Magalhães é um dos curadores.
"Na madrugada do dia 12 de março de 1975, mesmo no final daquilo que acabou por ficar conhecido - porventura incorretamente - como a assembleia selvagem do MFA [Movimento das Forças Armadas], o Coronel Vasco Lourenço, tentando fazer uma súmula do que estava ali a acontecer, disse: 'Bem, penso que há um consenso que vai haver eleições e tem de haver, porque isso é a primeira coisa que as pessoas vão querer saber desta reunião.' Sendo que, nessa reunião, se tinham discutido imensas coisas: nacionalizações e o 11 de Março. E o coronel Vasco Lourenço tinha razão, porque, nessa tarde, o Diário de Lisboa, na sua primeira página, tem um título onde estava escrito 'Haverá eleições?' Essa era a grande pergunta e esse é o título da nossa exposição", conta Pedro Magalhães.
E, no 25 de Abril deste ano, Portugal vai ter a oportunidade de voltar 51 anos no tempo, com uma oferta de Adelino Gomes, Pedro Laranjeiro e Paulo Coelho, através de um registo sonoro.
"Eu senti que tinha chegado a hora de entregar ao povo o documento que narrou a libertação do povo. Esse, que em Lisboa - de maneira tão definitiva -, se colocou ao lado dos revoltosos, no caso, ao lado da coluna de Salgueiro Maia, porque foi o local onde nós fizemos reportagem naquelas horas seguidas. Mas também todo outro povo, que oito dias depois desfilou em Lisboa e no país inteiro, consagrando a data e os seus heróis", aponta Adelino Gomes.
Este trabalho, que conta com alguns momentos que nunca mais voltaram a ser ouvidos, guardado em bobines, vai ser dado ouvir no Largo do Carmo, em Lisboa, o lugar onde Portugal ganhou a liberdade.
A programação para este ano vai ainda evocar a independência das antigas colónias e lançar uma sondagem sobre a descolonização, com o objetivo de entender como é que os portugueses percecionam este processo. “As sondagens que, periodicamente, são levadas a cabo têm, sobretudo, em conta a perceção sobre o 25 de Abril propriamente dito. Raramente são feitas questões sobre processos como a guerra colonial ou como a descolonização”, afirma Maria Inácia Rezola, reconhecendo que esta “não é uma história pacífica, que continua a existir mágoas, dores ou tentativas de manipulação histórica desse período”.
As comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril começaram em 2022 e prolongam-se até 2026, ano em que passam cinco décadas sobre as primeiras eleições legislativas livres.