Comissão que propôs Linha SNS Grávida diz que modelo é "galinha de ovos de ouro", apesar de não estar a funcionar "como deveria"
Em declarações à TSF, Caldas Afonso lamenta que o Ministério da Saúde não tenha pedido ajuda à instituição que "sempre se mostrou disponível" para ajudar, nomeadamente no que diz respeito à necessidade de revisitar algoritmos e fazer novas formações
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O presidente da Comissão de Reorganização das Urgências Obstétricas defende que a Linha SNS Grávida é a "galinha de ovos de ouro", apesar de reconhecer que o modelo não está a funcionar "como deveria".
Na segunda-feira, uma mulher teve um bebé em plena rua, no Carregado, concelho de Alenquer. Neste caso, os serviços partilhados do Ministério da Saúde já reconheceram a existência de um erro humano na aplicação do algoritmo da triagem e no encaminhamento da chamada, que não foi transferida para o INEM.
Em declarações à TSF, Alberto Caldas Afonso, líder da Comissão de Reorganização das Urgências Obstétricas, admite que este caso "mostra que as coisas não estão como deveriam estar". Lamenta, contudo, que a instituição que propôs este modelo e a qual preside sempre se tenha "mostrado disponível" para ajudar, nomeadamente no que diz respeito à necessidade de revisitar algoritmos e de fazer novas formações nesse sentido, sem que este apoio tenha sido solicitado por parte do Ministério da Saúde.
"No caso [de segunda-feira], a identificação de uma necessidade de acionar a linha de emergência era clara", sublinha, acrescentando que, quando a linha falha, "põe tudo em causa".
Apesar disto, defende o modelo de atendimento da Linha SNS Grávida, argumentando que, de outro modo, o país não teria "cinco urgências fechadas", mas antes "15, 20 ou 30".
"No meu hospital, retirei 40 atendimentos por dia. Todos nós temos dificuldades em ter escalas, mas permitiu-me que aquilo que eram as horas necessárias, eles [profissionais de saúde] tivessem mais libertos para ver aquilo que é a situação de parto. Isto é inquestionável", garante.
Pede, por isso, ao Governo que não "mate a galinha de ovos de ouro", insistindo que, mesmo que tivesse maior reforço de obstetras, este modelo seria "na mesma importantíssimo".
Caldas Afonso foi confrontado pela TSF sobre as declarações do Presidente da República que revelou, um ano depois da visita ao Hospital de Santa Maria, no Porto, ao lado da ministra da Saúde, que, no fim do verão, vai querer fazer uma espécie de balanço daquilo que se passa no setor da saúde. O médico pediatra responde que essa mesma instituição é um bom exemplo daquilo que tem sido feito.
"No último ano, enquanto o senhor Presidente da República teve essas declarações, o Hospital de Santa Maria não funcionava, não recebia ninguém e é um porta-aviões e o maior hospital do país. Neste momento, num ano, conseguiu abrir e ter uma área de excelência na área materno infantil, que não existia há um ano. Muito foi feito e é isso que é preciso dizer", assegura.
O caso do parto no Carregado já levou a ministra da Saúde a solicitar na terça-feira à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde a abertura de um processo de inquérito.