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Uma mulher paraplégica voltou a andar. Um simples sopro deteta se tem cancro do pulmão. Um telemóvel reage à voz do dono e avisa-o de que tem diabetes. Aconteceu numa conferência sobre Inteligência Artificial (IA) na medicina, em Lisboa, no Dia Mundial da IA.
Foi nas montanhas da Suíça. Marta Carsteaunu-Dombi teve um acidente de bicicleta quando treinava para uma competição desportiva. O acidente foi tão violento que não se lembra do que aconteceu, mas lesionou a coluna e ficou paraplégica, incapaz de mover-se da cintura para baixo.
O caso, a mulher e uma das responsáveis pela investigação da Universidade de Lausanne, na Suíça, vieram a Lisboa, apresentar-se na Conferência Internacional Medicina AI. Vieram mostrar que a Inteligência Artificial já faz hoje o que ontem era considerado um milagre.
Marta voltou a andar graças a um implante no cérebro. Numa mistura de IA e eletroestimulação, o cérebro voltou a comunicar com as pernas e Marta dá cada vez mais passos. O andar é comandado por pensamentos.
O Som da Doença
O auditório da Fundação Champalimaud estava à pinha. "São médicos, investigadores e também, por exemplo, famílias que procuram decidir o futuro dos filhos, qual a área a seguir", descreve Pedro Gouveia. É médico e investigador da Unidade de Cancro da Mama da Fundação Champalimaud.
Pedro Gouveia também organizou a conferência, está em palco a colocar questões aos intervenientes e está convencido de que este é também um caminho para a democratização do acesso a cuidados de saúde. E dá exemplos.
Vejamos Yan Fossat, especialista em saúde digital, investigador e professor universitário no Canadá, e o que faz com um simples smartphone.
Analisa a voz e vai dizer se aquele indivíduo tem diabetes ou não. Eu periodicamente posso falar com o meu telemóvel, e há um dia em que ele pode dizer: Pedro, tens diabetes!
Um sopro deteta cancro do pulmão
Ainda não é como um banalíssimo teste do balão, daqueles para detetar a quantidade e álcool no sangue, "mas um dia destes será, coisa para 30 minutos", comenta Pedro Vaz, a rir.
Para já, esta ferramenta está a ser usada em testes com fumadores com mais de 50 anos, potenciais doentes de cancro do pulmão. Os teste serão agora alargados e Pedro Vaz, investigador da Unidade do Pulmão, da Fundação Champalimaud, acredita que dentro de uns "três anos" este novo método de diagnóstico pode estar aí, disponível pronto a usar.
Como acontece com qualquer dispositivo médico, muitas ferramentas que recorrem à IA percorrem exatamente o mesmo caminho até garantirem que são eficazes e seguras antes de serem aprovadas para uso humano. Esta do sopro, é simples, eficaz e barata, garante Pedro Vaz em entrevista à TSF.
Uma amostra apenas do que num só dia, por sinal Dia Mundial da Inteligência Artificial, prova como a revolução IA já está afinal aqui tão perto.