"Como é que ninguém pôs um travão?" Vila Real de Santo António com dívida de 160 milhões de euros
Presidente da câmara alerta que a conta para pagamento está a aumentar "dia após dia".
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Um município encontrado ao abandono, com uma dívida à volta dos 160 milhões de euros, mas que pode chegar aos 182 milhões, caso alguns processos em tribunal contra o município tenham êxito. É desta forma que o autarca socialista de Vila Real de Santo António assegura ter encontrado a autarquia que lidera desde as últimas eleições autárquicas. "A dívida está a aumentar dia após dia", garante o presidente.
"Temos empréstimos ao PAEL (Programa de Apoio à Economia Local) e a várias instituições que estão a gerar juros de mora e que um dia vamos ter que pagar", afirma. "E o Plano de Apoio Municipal que está no Tribunal de Contas, ainda não temos notícias sobre ele", adianta Álvaro Araújo. Este plano, um dos muitos apresentados pelo município, ainda não foi aprovado.
Álvaro Araújo assumiu há um ano a presidência da autarquia que foi liderada pelo PSD durante 16 anos. Afirma que encontrou uma câmara onde se faziam contratos com empresas cujo trabalho não se conhece, viagens de milhares de euros e despesas que depauperavam o erário público. "Todos os dias nos deparamos com surpresas que nos tiram o sono", lamenta.
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"Quando chegámos aqui tivemos uma reunião com o FAM (Fundo de Apoio Municipal) e com o IGF (Autoridade de Auditoria) e foi-nos dito que tinham entregado no DCIAP de Évora um dossiê com determinados assuntos relativos ao município", conta. No entanto, "já passaram dois anos e não há notícia de que algo tenha acontecido", lamenta.
Perante esta situação, o autarca levanta a questão: "Como é que ninguém, nenhuma autoridade deste país pôs um travão a esta situação e não disse isto não pode continuar?"
Álvaro Araújo garante que não quer fazer "caça às bruxas", mas depois da auditoria interna que mandou realizar garante que irá entregar documentação às autoridades competentes para que se acuse quem tem que ser responsabilizado.
Ex-autarca contesta acusações
Luís Gomes, atual deputado do PSD e durante 12 anos (entre 2005 e 2017) presidente da câmara de Vila Real de Santo António, recusa todas as acusações feitas pelo atual autarca e não reconhece validade à auditoria interna.
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"Quem fez a auditoria é uma pessoa que recebe 2500 euros da câmara, é militante do Partido Socialista, é pai da atual chefe de gabinete do presidente da câmara e cunhado do diretor de serviços jurídicos, uma pessoa que não tem qualquer qualificação, nem habilitações", acusa.
"E chamam a isto auditoria?! Uma auditoria tem de ser feita por uma entidade independente, isenta e imparcial, por isso não me merece mais comentários", afirma.
Em 2020, o Tribunal de Contas concluiu que a dívida do município era de 122 milhões de euros e o passivo de 80 milhões, dívida que é, em grande parte, explicada pelo ex-autarca com um "grande investimento feito entre 2005 e 2020 para retirar todos os esgotos do rio Guadiana".
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"Estou de consciência tranquila", garante à TSF. Conceição Cabrita, a autarca que se seguiu na câmara e que era vice-presidente de Luís Gomes, chegou a ser detida pela Polícia Judiciária em abril do ano passado por suspeitas de corrupção.