Reportagem num encontro de atuais e antigos alunos do ISCTE na China onde ser professor parece ser a melhor profissão do mundo.
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São quase todos gestores ou empresários de sucesso, mas querem completar o currículo com um doutoramento em Gestão, num país onde o conhecimento e a educação são altamente valorizados.
Luís Reto, reitor do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, que há alguns anos tem dois doutoramentos na China, admite que fica "espantado como é que pessoas tão ricas se dão ao trabalho de voltarem aos bancos da escola e terem um esforço árduo para conseguir ter esse estatuto".
Presente na China há quase 30 anos, o ISCTE foi uma das primeiras universidades estrangeiras a chegar a um país que hoje tem uma enorme vontade de conhecer o que se passa 'lá fora' e onde a educação é um negócio para muitas faculdades de vários cantos do mundo.
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Dois dos seis doutoramentos dados na China por universidades estrangeiras reconhecidos pelo governo chinês têm a marca desta universidade portuguesa e ambos estão na área da Gestão (um em Cantão e outro em Chengdu).
Cerca de 80 alunos já concluíram os doutoramentos do ISCTE dados em parceria com duas universidades chinesas (além de quase duas centenas que concluíram mestrados) e outros 200 têm as teses de doutoramento em desenvolvimento.
As razões para voltar a estudar
Este ano o encontro de antigos alunos do ISCTE foi na China, mais precisamente em Cantão e a sala repleta reuniu alguns ex-alunos vindos de países africanos de língua portuguesa, mas sobretudo cerca de 250 atuais e antigos alunos chineses.
O reitor, Luís Reto, acredita que a maioria dos alunos de doutoramento na China tem dois objetivos. Primeiro, "conhecer o Ocidente e perceber como a gestão Ocidental os pode ajudar a desenvolver o negócio".
Depois, "talvez em primeiro lugar, é uma questão de estatuto pois a educação e o conhecimento é algo muito valorizado na sociedade chinesa", recordando o reitor que foi o primeiro país que se sabe que começou a recrutar funcionários públicos através exames de mérito, sublinhando que o fizeram 350 anos antes de Cristo.
A valorização do professor, da educação e dos professores é tanta na China que Luís Reto tirou neste encontro centenas de fotos com alunos: chineses entusiasmados por poderem estar perto do reitor da universidade onde estudaram.
A melhor profissão da China
Virgínia Trigo é professora de empreendedorismo, inovação, comportamento organizacional e dá aulas na China há quase três décadas, sendo uma das pioneiras do trabalho do ISCTE no Oriente.
A docente conta que ser professor "é a melhor profissão da China" porque são muito valorizados e até acarinhados, recordando o 10 de setembro, feriado nacional por ser Dia do Professor, em que todos os alunos vão às escolas dar presentes e agradecer o seu trabalho pelo conhecimento que transmitem.
Virgínia recorda uma das dezenas de mensagens que recebeu num desses dias de um aluno a dizer-lhe que mudou a sua vida, "algo que em Portugal nunca acontece".
Para os chineses conhecer o mundo e outros países é algo também importante para os negócios porque como explica Virgínia Trigo o país acumulou muito dinheiro e, como já tem quase tudo construído, o objetivo é aplicar as 'poupanças' no estrangeiro.
Exportar educação
Para as universidades, admite Luís Reto, ir para a China é uma oportunidade de trocar experiências, conhecer novas culturas, mas também um negócio, numa verdadeira "exportação de educação", como lhe chama o embaixador de Portugal em Pequim, recordando que para a Austrália, por exemplo, essa já é a segunda maior fonte de exportações.
O reitor do ISCTE garante que não é o chamado 'negócio da China', mas é verdade que é, também, um negócio, sobretudo para universidades portuguesas que se deparam com um previsível cenário de falta de alunos fruto da queda da natalidade e que terá de se compensar com alunos estrangeiros.
Vinte por cento dos alunos do ISCTE já são estrangeiros e o maior contingente é chinês, sendo que o objetivo é recrutar ainda mais alunos fora de Portugal.
Cada aluno chinês destes doutoramentos tem uma propina que ronda os 30 mil euros, mas como apenas metade vai para o ISCTE (o resto vai para a universidade chinesa parceira) o lucro final não é tão grande como se pode pensar, nomeadamente porque é preciso colocar professores portugueses em Cantão e Chengdu.
Mais importante, em termos financeiros, explica o reitor, é criar raízes, história, reputação na China, para atrair alunos de licenciatura ou mestrado que vêm para Portugal e pagam, de propina, 7 mil euros por ano, sendo comum que os filhos dos doutorados pelo ISCTE na China queiram, depois, seguir as pisadas do pai ou mãe e estudar na mesma universidade de Lisboa.
A TSF viajou à China a convite do ISCTE-IUL.