Como seria Portugal com o regime afegão? Sem mulheres na vida pública, "o país colapsava"
À TSF, o economista Eugénio Rosa explica que se as mulheres deixassem de trabalhar, ocorreriam quebras na produção de riqueza, falência de serviços, colapso das famílias e retrocesso social.
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O economista Eugénio Rosa garante que, caso Portugal tivesse um sistema político e social como o do Afeganistão e as mulheres deixassem de poder ter uma vida pública ativa, a economia colapsava.
"Em relação ao emprego, as mulheres atualmente representam 49%. Nós tivemos em conta que por empregado, a produção em 2022 andou à volta dos 48 mil euros, portanto, de mulheres fossem apagadas da produção, reduzia apenas a 119 mil milhões de euros em riqueza criada. O país colapsava", explica à TSF o economista.
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Além da quebra na produção de riqueza, Eugénio Rosa argumenta que muitos serviços deixavam de funcionar e dá exemplos: "As mulheres estão, no emprego em Portugal, muitas delas em profissões pouco qualificadas, mas tem muita gente altamente qualificadas, por exemplo, em relação às estatísticas publicadas pelo INE, 57% dos especialistas em atividades intelectuais e científicas são mulheres. Nós analisamos, por exemplo, a administração pública, as mulheres como maioritários numa série de áreas fundamentais para o funcionamento do país. No pessoal de investigação representa 57%. Na área médica, 65%. Enfermeiros, 83%."
Outro colapso que ocorreria se Portugal passasse a ter um regime semelhante ao do Afeganistão era o das famílias.
"Uma parte maioritária das famílias depende do rendimento dos dois, quer do homem, quer da mulher. Retirado o rendimento da mulher, a taxa de pobreza e de miséria em Portugal aumentaria assustadoramente", considera Eugénio Rosa.
E, além disto tudo, teríamos um retrocesso civilizacional: "O acesso da mulher ao trabalho representa não só um modo de obtenção de rendimento, uma independência económica que é fundamental para haver igualdade entre os sexos, mas também a um elemento de dignificação da própria mulher. Afastá-la da atividade produtiva era colocá-la numa situação de total dependência em relação ao rendimento do homem. Quem tem poder económico, tem poder sobre o outro."
De acordo com Eugénio Rosa, "não é por acaso o atraso em que vivem esses regimes em que a mulher é marginalizada". Alguns caem na miséria, "como o Quirguistão, então acontece na Arábia Saudita e outros que vivem de petrolíferas".
"Quando aquilo acabar, o colapso também será inevitável, porque impedir que metade da população produz tem um efeito tremendo no próprio desenvolvimento do país", conclui o economista.