Comunidade Intermunicipal do Algarve confirma cortes de água de 70% na agricultura e 15% no consumo urbano
Análise às barragens concluiu que a água armazenada só deve chegar ao "final do verão" e o objetivo do plano de contingência é garantir que aguenta até "ao final do ano".
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O presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), António Miguel Pina, confirma à TSF os cortes de água de 70% na agricultura e de 15% nas zonas urbanas incluídos no plano de contingência da região para enfrentar a seca extrema.
A análise feita às barragens concluiu que têm água para "mais seis a oito meses, portanto final do verão", mas o objetivo é garantir que esta chega "ao final do ano".
"Com as disponibilidades que temos nas barragens e com uma previsão de chuva igual ao pior ano dos últimos dez, para atingir este objetivo foi colocado em cima da mesa um corte na agricultura de mais ou menos 70%", o que garante uma quantidade de água "suficiente para que as plantas não morram". Ainda assim, é de esperar produção zero tanto neste como no próximo ano, "porque depois de serem colocadas neste estado de hibernação, só ao fim de dois anos é que [as plantas] voltam a produzir".
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Outro dos cortes pensados é no ciclo urbano da água, mas num valor mais baixo, de 15%, acompanhado de ações de "grande sensibilização", mas também de uma "diminuição da pressão" e do "aumento do tarifário a partir de um determinado escalão e eventualmente num outro escalão que se considere já uma falta de consciência agravada, com coimas para inibir esses consumos excessivos".
No turismo, que como explica o também presidente da câmara de Olhão entra no ciclo urbano da água e em específico no consumo não doméstico, o abastecimento também vai ser afetado, "seja hotelaria, seja alojamentos locais". Cafés, restaurantes, empresas e indústrias também devem ser atingidos.
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Já os campos de golfe "normalmente estão ligados a furos ou às associações de regantes" e, no segundo caso, "a previsão é que tenham um corte semelhante à agricultura".
O ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, visita esta sexta-feira o Algarve para reunir-se com os autarcas da região e tentar acordar soluções para a seca.
"Estamos a passar a pior seca de sempre"
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA), pelo vice-presidente Pimenta Machado, não esconde que está preocupada com a "pior seca de sempre" no Algarve.
"Nunca tivemos as nossas reservas de água nesta situação, neste momento estão a 25%, quer as águas superficiais, ou seja albufeiras, quer as águas subterrâneas", explica, apontando que a seca "não é deste ano só".
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"É uma seca de nove anos, são nove anos em que há uma anomalia na precipitação, chove abaixo da média. Esta é a situação da região do Algarve", lamenta Pimenta Machado. Feitas as contas, os 25% de água reservada nas 16 albufeiras algarvias equivale a "menos 90 hectómetros cúbicos".
"No ano passado, por esta altura, tínhamos 40 a 45% do volume de água reservada nas albufeiras", compara para retratar um cenário "muito difícil e muito exigente" que vai exigir "grande articulação com os setores".
O corte é mais elevado na agricultura porque "o setor urbano é prioritário", mas a APA compromete-se a "trabalhar" em proximidade com a associação de regantes "para minimizar este corte e encontrar aqui e acolá soluções".