Conferência Episcopal Portuguesa recebe em Fátima associação que representa vítimas de abuso
Filipa Almeida, fundadora da Coração Silenciado, afirma, na TSF, que o objetivo é perceber "o real sentir da CEP em relação ao assunto".
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A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) vai receber no dia 14 de janeiro, em Fátima, a associação Coração Silenciado, em representação das vítimas de abuso sexual por parte da Igreja Católica.
O bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, que foi reconduzido na presidência da CEP para o triénio 2023-2026, vai receber alguns membros da direção da associação, que quer auscultar "o real sentir da CEP em relação ao assunto".
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Filipa Almeida, fundadora da Coração Silenciado, revela à TSF que as portas da igreja se abriram depois de ter sido enviada uma carta a pedir um encontro cara a cara.
"Esta reunião foi marcada na sequência da carta enviada pela nossa associação ao CEP em que, como resposta, eles fizeram um convite para um encontro e é o que está a acontecer com a marcação desta tal reunião que vai acontecer entre a direção da associação e a Conferência Episcopal Portuguesa", adianta, acrescentando que a mesma se vai realizar em Fátima, no dia 14 de janeiro.
Na carta, datada de 2 de novembro, a associação considerava que "nove meses depois da apresentação do relatório da comissão criada (...) para o estudo deste tema, (...) muito poucas foram as ações desenvolvidas e as atitudes concretas levadas a cabo".
A dirigente afirma ainda que a maior expectativa é encontrar respostas da igreja sobre as suas reais intenções em relação às vítimas de abuso sexual na instituição.
"Como é um primeiro contacto, um primeiro diálogo frente a frente, com palavras ditas e não palavras escritas, a expectativa que temos é de nos apercebermos do real sentir da CEP em relação ao assunto e é o eles estarem diretamente com as vítimas e percebermos qual é que é a intenção e a resolução deles em relação a todo este problema dos abusos na igreja", aponta.
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Filipa Almeida adianta por isso que associação não vai de coração silenciado, mas antes com "espírito muito aberto para escutar e muita capacidade para partilhar e propor".
Na carta aberta, os bispos são também questionados sobre quantos "já se reuniram, ao jeito do papa Francisco, com as vítimas" das suas dioceses e quantos já entraram em contacto com a associação, ao mesmo tempo que a CEP era acusada de não ter ainda formalizado "nenhum convite para diálogo, para saber o que sentem as vítimas, o que precisam, o que esperam da Igreja em Portugal".
Na quarta-feira, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou que o Ministério Público (MP) tem abertas 14 investigações sobre alegados abusos sexuais no contexto da Igreja Católica e arquivou outras 26 desde 2022.
Segundo a contabilização da PGR enviada à Lusa, as denúncias foram remetidas pela Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica, pela Comissão de Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis do Patriarcado de Lisboa, pelo Grupo VITA e por outros denunciantes.
A Associação Coração Silenciado lançou uma petição para defender a indemnização das vítimas de abusos sexuais por parte da Igreja Católica. Uma das fundadoras da associação, Cristina Amaral, tinha acusado a igreja portuguesa de ignorar o assunto, acabando por desmotivar as vítimas dos abusos.