Consequências políticas "limitadas". O "retrato da mediocridade" e "sem brilho" da CPI à TAP
A comissão parlamentar de inquérito à TAP subiu a debate no programa O Princípio da Incerteza. Alexandra Leitão, Pacheco Pereira e Lobo Xavier consideram que as conclusões da comissão não terão efeitos práticos, tendo ficado muito aquém das expectativas.
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A deputada socialista Alexandra Leitão considera que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP não vai ter consequências políticas, nomeadamente uma remodelação governamental. No programa da TSF e CNN Portugal, O Princípio da Incerteza, a deputada lamentou que a CPI tenha passado ao lado da questão central, ou seja, a gestão da companhia aérea, e tenha perdido muito tempo em questões paralelas. Ainda assim, não põe em causa a importância da comissão, embora não acredite que as suas conclusões possam levar a consequências políticas.
"Tenho pena que os trabalhos desta comissão tenham tido diversos momentos que têm a ver com o assunto, mas que, na verdade, têm relativamente pouco a ver com o assunto da comissão parlamentar de inquérito, que eu relembro, era uma comissão parlamentar de inquérito à gestão política da TAP, especialmente aos acontecimentos no Ministério das Infraestruturas, em abril deste ano, e as consequências que depois isso teve no relacionamento entre o Presidente da República e o primeiro-ministro", afirma Alexandra Leitão, sublinhando que "todos esses aspetos até têm alguma coisa a ver com o assunto da comissão parlamentar de inquérito, porque surge na sequência da própria gestão da TAP, mas não são - nem têm que ser - o cerne dessa comissão parlamentar".
"Só tenho pena que esses episódios tenham, de certa forma, ocupado em grande parte o tempo e o tema da comissão parlamentar de inquérito. Dito isto, não estou a dizer que eles não deviam ser analisados", reforça.
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A deputada socialista aponta que as "consequências para o Governo e para a oposição serão muito limitadas" e não espera "uma remodelação do Governo".
Esta é uma ideia partilhada por Pacheco Pereira. O historiador diz que a CPI à TAP não vai ter efeitos práticos, mas evidenciou uma má imagem dos políticos.
"Os efeitos mais duradouros da comissão vão ser muito negativos, porque estas trapalhadas com os ministros e com o pessoal político, portanto, o que aconteceu com o ministro Galamba, aquela cena de supostamente pancadaria ou de roubo de computadores, as mentiras do Pedro Nuno Santos, as ambiguidades que aparecem sempre que há uma contradição evidente nas declarações, é evidente que isso cria uma imagem da vida política. O que fica desta comissão de inquérito é um retrato da mediocridade de muitos dos nossos governantes e, ao mesmo tempo, das relações complicadas com o Presidente da República e com o primeiro-ministro, que, na verdade, não defrontam este tipo de coisa, tem muito a ver com o recrutamento, com as carreiras, de como isto está na vida política. Isso é evidente que é péssimo e infelizmente é o que fica da comissão", refere Pacheco Pereira.
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Também António Lobo Xavier, antigo dirigente centrista, considera que a CPI ficou muito aquém das expectativas.
"Esta comissão parlamentar de inquérito não teve o brilho de outras comissões. Não foi por culpa dela própria, porque no meio de uma comissão destinada a averiguar a gestão da TAP a vida política introduziu uma série de distrações. A comissão parlamentar de inquérito valeu a pena, pelo menos, para confirmar, se alguém tivesse dúvidas, uma gestão impulsiva pouco transparente", defende.
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Os três comentadores falaram ainda de Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas, que também foi ouvido na CPI à gestão da TAP. Alexandra Leitão acredita que Pedro Nuno Santos será o próximo líder do Partido Socialista. José Pacheco Pereira considera o antigo governante não esclareceu o que precisava de ser clarificado e António Lobo Xavier defende que a prestação do ex-ministro não mudou a sua habitual postura e "caráter auto centrado, controlador e retaliador", fazendo, disse Lobo Xavier, "lembrar José Sócrates".