Construção de navios patrulha em Viana do Castelo empregará até 1500 trabalhadores
O contrato com a Marinha para entrega de seis embarcações até 2030, no valor de 300 milhões de euros, terá impacto económico no emprego, restauração e alojamento da cidade.
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Dez anos depois do encerramento da empresa pública Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), o vento parece soprar outra vez de feição para a construção naval naquela cidade.
A empresa West Sea, do grupo Martifer, que detém agora a subconcessão de terrenos e infraestrutura dos antigos ENVC, assinou com a Marinha, um contrato de 300 milhões de euros para construção de mais seis navios patrulha oceânicos (NPO). E garante que no pico do projeto deverão laborar na empresa até 1500 trabalhadores.
Na cidade, os negócios, principalmente, a restauração e o alojamento, anseiam pela “boa maré” que se avizinha.
Sandra Santos, do restaurante e residencial Santos, situados nas imediações dos estaleiros, em plena Ribeira de Viana do Castelo, conta que um seu cliente, “engenheiro” naquela empresa lhe garantiu que a construção naval regressará em força “a partir de março”. “Disse-me: Atenção que há muito trabalho para começar aqui em Viana do Castelo. E isto, a correr bem, vão ser mais quatro aninhos aí a bombar”, Sandra Santos, sorrindo, face à expectativa de encher o restaurante, com as diárias à hora de almoço, e ocupação das 11 camas da sua residencial.
José Domingues, do restaurante vizinho, Foz do Lima, também aplaude a encomenda da Marinha à West Sea. “O contrato para os seis navios foi uma boa notícia. Vai ser para a minha reforma”, comenta, referindo: “Cinquenta por cento dos meus clientes são trabalhadores dos estaleiros. A expectativa é crescer. Já há aí pessoal para os navios novos. Temos aí clientes a trabalhar nos navios novos”. E recorda: “Os estaleiros sempre foram um sustento para todo o comércio desta zona”
Até agora, o setor que marcou várias gerações de trabalhadores naquela cidade, tem recuperado com reparações e construção de navios-hotel para a Douro Azul, paquetes para a Mystic Cruises (de Mário Ferreira) e dois NPO, do conjunto de dez “patrulhões”, que estavam previstos desde há duas décadas, quando Paulo Portas era Ministro Da defesa.
A West Sea, garante que “tem mantido uma média de 1 000 trabalhadores (diretos e indiretos )a entrar no estaleiro diariamente”, e que, com a construção dos seis NPO, “esse valor deverá aumentar”.
“Estimamos que no pico do projeto poderá ultrapassar os 1 500 trabalhadores”, indicou a mesma fonte, adiantando que “a West Sea está preparada para avançar com o projeto no imediato logo que seja aprovado” com o visto do Tribunal de Contas. “Estima-se que o primeiro Navio Patrulha Oceânico seja entregue em 2027 e os restantes até 2030”, adiantou.
Carlos Vieira, antigo técnico de desenho durante 41 anos nos ENVC, hoje presidente do Grupo Desportivo e Cultural dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (GDCENVC), que sobreviveu ao fecho da empresa pública, considera que este é “sem dúvida, um negócio extraordinário para Viana do Castelo”.
“É um contrato que tem mais valias, por um lado para a empresa, porque lhe dá uma capacidade de construção bastante boa, até em termos de tempos de construção. E para a cidade é excelente, porque vai trazer mais empresas [subcontratadas] e trabalhadores”, defende Carlos Vieira, sublinhando: “Vai ser bom para restauração, hotelaria e alojamento. Vêm muitos técnicos para cá. A Marinha traz sempre uma equipa muito grande que fica em permanência”.
O antigo desenhador recorda que nos momentos áureos da sua história com cerca de 70 anos, os ENVC chegaram a empregar “mais de dois mil trabalhadores”.
E acrescenta, de resto, que os tempos de revolta contra o fecho dos ENVC ficaram para trás. “Isso já se esbateu no tempo. Também não fazia sentido de outra forma. Agora interessa é que a WestSea avance, progrida, faça boas construções e mantenha a sua qualidade de trabalho”, conclui.
O autarca de Viana do Castelo, Luis Nobre, considera que a construção das seis embarcações militares nos estaleiros da WestSea em Viana do Castelo, “terá um impacto económico e social significativo na cidade, concelho e região”.
“A manutenção e criação de novos empregos diretos e indiretos ajudará a impulsionar a economia local, gerando novas dinâmicas e oportunidades para os vianenses”, refere, sublinhando que “é uma oportunidade única para o concelho poder beneficiar tanto economicamente quanto socialmente, promovendo o crescimento e desenvolvimento sustentável em todos os domínios: industrial, dos serviços, da restauração, do comércio, turismo, academia, tecnológico e da inovação”.
A administração do grupo Martifer afirma que a sua empresa West Sea, que ocupou em 2014, os terrenos e infraestruturas dos antigos ENVC, “é responsável por voltar a dinamizar uma das maiores infraestruturas industriais de Portugal, que esteve estagnada durante muitos anos”. E se tornou “exemplo de competitividade e reconhecimento internacional”, que contribuiu para “aumento das exportações e valor acrescentado da região e do país”.
