"Consumo de risco": dois copos ao almoço e ao jantar vão muito além da moderação
Assinala-se, esta terça-feira, o Dia Nacional dos Alcoólicos Anónimos. O subdiretor do SICAD sublinha que faltam recursos humanos para tornar mais eficaz o combate e a prevenção do consumo de álcool.
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Faltam profissionais nas diferentes estruturas envolvidas no tratamento de doenças associadas ao consumo excessivo de álcool. Não é um problema exclusivo dos serviços de saúde públicos que se dedicam a esta área. Manuel Cardoso, subdiretor do Serviço de Internamento nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) considera que "é transversal às questões do SNS".
"As unidades de alcoologia e também os centros de respostas integradas, que são a primeira linha de resposta, (...) estão com problemas de recursos humanos. Há muito tempo que não há integração de novos profissionais", afirma.
Questionado sobre se o serviço prestado à comunidade neste campo é o adequado, Manuel Cardoso responde que "é o possível". "Precisa de haver um aumento de recursos em toda a linha", defende.
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Uma das faces do problema que, segundo o subdiretor do SICAD, não tem merecido tanta atenção quanto a desejável é a questão da prevenção.
"Não estamos a fazer nada para [travar] o consumo de risco. Precisamos de ter uma intervenção mais próxima do cidadão e que tem de acontecer nos cuidados primários, fundamentalmente. Tem de passar por uma resposta cultural", diz.
Manuel Cardoso sublinha que as questões ligadas à prevenção são muito importantes num país que continua a olhar para o consumo de álcool de uma forma benevolente. O subdirector do SICAD exemplifica: "Pode ter-se uma vida ativa, normal, e consumir um ou dois copos de vinho ao almoço, um ou dois copos de vinho ao jantar, muitos dos portugueses ainda arranjam uma bebida espirituosa para acompanhar o fim da refeição,... Esta quantidade de álcool vai muito além da moderação."
"Está definido que o baixo risco é não ir além dos dois copos ou duas cervejas por dia, no caso dos homens, e uma para as mulheres. Quando nós duplicamos ou triplicamos isto, quando isso se transforma numa prática, o risco de vir a ter problemas relacionados com estes consumos é enorme", garante.
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O último inquérito promovido pelo SICAD em 2017 revela um aumento do consumo de álcool, com especial incidência entre as mulheres e as pessoas com mais de 35 anos.