O antigo presidente do Governo dos Açores Carlos César disse na terça-feira que a continuidade de Portugal na zona euro obriga a «políticas difíceis» e a um «consenso perdurável» a nível interno «num conjunto de matérias».
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Falando em Ponta Delgada, na apresentação do livro "A austeridade cura? A austeridade mata?", coordenado por Eduardo Paz Ferreira, o presidente dos anteriores executivos regionais socialistas dos Açores referiu-se à «austeridade à portuguesa» e defendeu que há outras opções.
«Não são muitas, mas podem ser diferentes as opções a tomar, inclusive no plano de uma reforma do Estado que se tem, infelizmente, confinado ao corte da despesa, sabendo-se que é certo que a nossa continuidade na zona euro nos obriga a políticas difíceis e a um esforço interno de consenso perdurável sobre um conjunto de matérias», afirmou.
Para Carlos César, «é bom, no entanto, desfazer alguns mitos», dando como exemplo o «estado alegadamente despesista», quando afinal a despesa total com a administração em percentagem do PIB é inferior à média da zona euro ou da União Europeia a 27 «pelo menos desde 2000».
Entre as opções que «podem ser diferentes», apontou que «é possível poupar e recuperar recursos em áreas intocadas ou mal avaliadas e tratadas», «renegociar condições com credores, evitar a prescrição de milhares de milhões de euros em dívidas fiscais, a exportação de capital e de investimento» ou ainda que «é possível poupar e lucrar com maior eficiência e menos burocracia nos procedimentos e serviços públicos» e «comprimir muitas despesas», por exemplo, «na compra de bens e serviços ou até no aumento das chefias da administração pública, que continua a acontecer».
Para Carlos César, quando o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) reconhece os «seus próprios excessos», não se pode «pensar simplesmente que o mal está feito». «O mal deve ser reparado», afirmou.
Carlos César referiu que a «austeridade à portuguesa», que «pode não matar, mas dói muito», deixa as empresas e, sobretudo, as famílias «num estado de exaustão e de debilidade, quando não num estado de miséria, de miséria material».
«Ainda que o mal tenha avançado muito, é importante corrigir caminhos e alterar intensidades, destinatários e objetivos, ressarcir alguns prejudicados, aliviar empobrecidos, diminuir desigualdades, sem abandonar o compromisso de orientação no sentido de atingir metas razoáveis de metas orçamentais e do saldo estrutural», defendeu.
«É certo que um dia recuperaremos, mas sabe-se lá, por este caminho, quanto e quantos já ficaram e ficarão para trás e quanto o empobrecimento, a exclusão e a desigualdade provocados pela austeridade desnecessária e insensível abrirão caminho para a instabilidade, a revolta e os extremismos que já ocorrem em muitos países e já contaminam forças habitualmente moderadas», acrescentou.