Contra assédio moral e sexual nas artes: projeto Muda realiza inquérito anónimo e confidencial online
A intenção da iniciativa é realizar um conjunto de atividades junto do setor artístico para produzir conhecimento e informar todos os setores da cultura
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O projeto MUDA é uma iniciativa contra o Assédio nas Artes em Portugal. "Tem como principal objetivo transformar práticas de trabalho que permitem situações de assédio, não consentimento, abusos de poder, manipulação e vitimização", dizem as promotoras do projeto em comunicado. Catarina Vieira, Raquel André e Sara de Castro são as responsáveis pelo projeto MUDA - Assédio nas Artes em Portugal.
Para que não se fale do assunto apenas numa base empírica, a primeira atividade passa por realizar um estudo científico sobre a diversidade de manifestações de assédio laboral (sexual e/ou moral) no âmbito das artes performativas e nos cruzamentos disciplinares em Portugal, bem como os seus impactos a nível psicológico e social. Deste modo, vai começar com um inquérito online elaborado por uma equipa multidisciplinar e dirigido a quem faz da arte a sua vida profissional. “Este é o primeiro passo porque acreditamos que, sem estes dados científicos, sem conseguirmos perceber qual é a relação entre estas práticas de assédio e a precariedade, as questões de género, será difícil depois gerar uma reflexão mais profunda que possa levar a mudanças legislativas, eventualmente”, sublinha Catarina Vieira.
A equipa responsável por este estudo envolve duas psicólogas, uma socióloga e uma jurista, especialista em direito do trabalho. Catarina Vieira revela que organizaram diversas conversas desde 2018 e perceberam que a questão do assédio era tema recorrente. “Sentimos mesmo que as profissionais estão com muita necessidade de falar sobre este tema e, então, temos alguma expectativa que haja realmente interesse em participar”, adianta. O inquérito vai ser anónimo e confidencial.
Estão abrangidas artes do teatro, dança, música, ópera, as artes de rua, o circo e os cruzamentos disciplinares entre elas. “Pareceu-nos importante focar nas artes performativas porque tem esta característica do corpo vivo que está em cena, onde o corpo é um instrumento de trabalho”, considera. Catarina Vieira julga que “muitas vezes isso faz com que as linhas éticas de consentimento se tornem um pouco mais esbatidas, e abra campo para práticas de assédio, seja moral, seja sexual”.
O inquérito para recolha de dados será partilhado em junho de 2025, e prevê-se uma publicação final dos resultados em março de 2026. Este estudo está a ser financiado pela DGArtes - Direção Geral das Artes.