"Convicção democrática" contra ações policiais com "conteúdo ideológico de intimidação" traz manifestação para a rua
Em declarações à TSF, Garcia Pereira afirma espera uma manifestação pacífica e sublinha que é "muito importante" que a população se mobilize para marcar uma "posição contra a xenofobia, o racismo e contra práticas como aquela" que a PSP levou a cabo na rua do Benformoso
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Com "toda a convicção cívica e democrática", milhares de pessoas são esperadas este sábado em Lisboa, num dia em que a indignação volta a descer as ruas da Alameda Dom Afonso Henriques e o Martim Moniz. A ação reflete o repúdio por uma "polícia armada até aos dentes", que lava a cabo operações com "conteúdo ideológico de intimidação", que visam sobretudo cidadãos "mais indefesos".
Menos de um mês depois da operação policial na rua do Benformoso, que visou imigrantes, a manifestação contra o racismo e xenofobia, denominada "Não nos encostem à parede" sai às ruas na tarde deste sábado. Nas redes sociais, os organizadores afirmam que mais de 1800 pessoas subscreveram o apelo à manifestação.
O advogado António Garcia Pereira, um dos subscritores, assegura, em declarações à TSF, que estará presente no protesto com "toda a convicção cívica e democrática". Afirma que é "muito importante" que a população se mobilize para marcar uma "posição contra a xenofobia, o racismo e contra práticas como aquela" que a PSP levou a cabo na rua do Benformoso.
Argumenta ainda que a operação policial realizada a 19 de dezembro no Martim Moniz não tinha como objetivo a "persecução da segurança". Pelo contrário, entende que esta teve "um conteúdo essencialmente ideológico de intimidação, sobretudo relativamente às pessoas mais indefesas, como são os cidadãos imigrantes que vivem e trabalham" em Portugal.
Apesar de apontar que esta não foi uma situação inédita, adianta que a iniciativa teve outra dimensão e objetivos fora do comum. Garcia Pereira acusa assim o Governo de tentar "disputar" eleitorado com o Chega.
"Este tipo de operações, em que a polícia entra a armada até aos dentes - como se fosse encontrar uma espécie de desesperada resistência armada -, a empurrar toda a gente contra a parede e a forçar as pessoas a estarem quase uma hora de mãos e pernas abertas, encostadas a uma parede, já se vêm verificando, mas de facto aquela tomou um particular relevo por ser no centro da cidade e por ser óbvio que não tinha nada que ver com preocupações de segurança, mas visava um objetivo por parte do Governo de mostrar a um certo setor do eleitorado que é capaz de fazer as mesmas coisas que o senhor André Ventura defende e, portanto, tentar disputar esse eleitorado", justifica.
Garcia Pereira considera mesmo que esta foi uma "operação intimidatória, que deve ser rejeitada".
O anúncio de uma manifestação, que tem início pelas 15h00, motivou a resposta de grupos da extrema-direita e o partido Chega organizou uma vigília de apoio à PSP na Praça da Figueira para a mesma tarde, denominada "Pela autoridade e contra a impunidade".
O advogado pede por isso à polícia que esteja atenta, apesar de esperar um protesto pacífico.
"A preocupação é de realizar e de exercer um direito cívico de se manifestar, desfilar pelas ruas da cidade e se manifestar pacificamente. Se há intenções de provocar conflitos, compete à polícia estar atenta a estas matérias", adianta.
Esta não é a primeira vez que protestos anti-racismo e iniciativas do Chega se cruzam. A PSP garante que está alerta.