É o que afirma à TSF o presidente da Associação de USF e um dos autores da reforma dos cuidados de saúde primários. Na ótica de André Biscaia, "é preciso apostar no que se sabe que funciona".
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Foi há quase 20 anos, num Governo de José Sócrates que, pela primeira vez, se previa uma rede de cuidados de saúde primários que poderia ser constituída também por privados e por grupos de profissionais liberais. Mas só depois de esgotados os recursos públicos. O modelo de 2003 veio a ser consagrado como Unidade de Saúde Familiar (USF) tipo C, numa reforma de 2007 em que trabalhou o médico André Biscaia.
Hoje presidente da Associação Nacional de USF e diretor da USF Marginal, no Estoril, lembra que o tal modelo C "está na lei há muitos anos", mas nunca chegou a ser regulamentado, "por isso ninguém sabe muito bem o que possa ser".
O que a lei diz claramente, sublinha, é que "as USF modelo C só deverão avançar quando estiverem esgotadas as respostas no Serviço Nacional de Saúde".
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Este médico de família está convencido de que esse momento está ainda longe e pode nunca chegar. "É preciso apostar no que se sabe que funciona", as USF modelo A e B, que precisa de ser alargado, "em vez de começarmos a desviar recursos para outras soluções".
A passagem de uma USF de modelo A para modelo B significa maior autonomia e também maior remuneração dos profissionais que se organizam para prestar cuidados de saúde. A remuneração é essencial para regiões como Lisboa e Vale do Tejo ou Algarve onde o preço da habitação é particularmente alto.
Entre as provas de que os atuais modelos funcionam, André Biscaia aponta a situação no Norte do país, "com maior cobertura de USF e onde as coisas têm corrido melhor".
Acredita André Biscaia que é preciso é crescer e está tudo à mão: tanto financiamento, como profissionais de saúde. "Médicos, enfermeiros e secretários clínicos, há profissionais suficientes no mercado. Há dinheiro, há organização, há história. Tudo isto pode ser otimizado, e ainda não foi."
O ministério da Saúde tem vindo a fazer referência a uma solução pontual, em que estas USF de modelo C seriam entregues a "cooperativas de médicos". A simples expressão arrepia André Biscaia: "Esse nome sugere outra coisa que não uma Unidade de Saúde Familiar."
As USF são uma unidade de vários profissionais que não apenas médicos, "são órgãos colegiais, têm democracia interna. Por exemplo, o coordenador é eleito e cada profissional tem direito a um voto, seja médico ou secretário clínico." André Biscaia lê a eventual criação de cooperativas de médicos para gerirem centros de saúde, como "outra coisa qualquer que não uma USF".