Correia de Campos: «Porquê deixar morrer doentes e construir novo terminal de contentores?» (vídeo)

Em entrevista à TSF, o socialista Correia de Campos questiona as opções do Governo em matéria de saúde. Apesar de elogiar o trabalho de Paulo Macedo na contenção da despesa, o antigo ministro da Saúde afirma que, pelo caminho, o ministro esqueceu-se das pessoas.
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Questionado sobre se as escolhas do Governo, em tempos de grande contenção orçamental, não são compreensíveis e racionais, o antigo ministro socialista responde com uma pergunta: «porque é que o governo há de escolher entre deixar morrer doentes que podem sobreviver, e gastar dinheiro a fazer um terminal portuário na outra margem, com custos que ninguém conhece, e cuja análise custo-benefício está longe de ser conhecida? Porque é que isso há de ser uma prioridade?»
Correia de Campos, catedrático reformado da Escola Nacional de Saúde Pública, olha para as últimas semanas de polémicas e casos na área da saúde, e afirma que «tudo isto era previsível, embora não fosse visível», concluindo que os problemas nas urgências, por exemplo, são resultado direto de quase quatro anos de grande contenção orçamental no Ministério da Saúde.
Entre 2008 e 2014, afirma o antigo ministro, a despesa em saúde caiu cerca de 1,2 mil milhões de euros, o que é «aparentemente a parte positiva» do trabalho do atual ministro, mas «por baixo está a parte negativa, estão as pessoas», diz Correia de Campos.
Europa
Correia de Campos comenta as declarações de Passos Coelho e Cavaco Silva sobre a Grécia, e afirma que Portugal tem assumido posições «quase fundamentalistas», com acusações implícitas de que «os gregos são uns preguiçosos, e não cumpriram», enquanto nós cumprimos.
O antigo eurodeputado socialista, entre 2009 e 2014, afirma que Portugal tem, «ao mais alto nível», uma «visão empedernida» sobre a política europeia. Ainda assim, Correia de Campos acredita que «o primeiro-ministro já percebeu que não pode continuar a ser o menino bonito da senhora professora (Merkel)».
O antigo ministro socialista critica o que classifica como a «visão cultural» da crise grega, assumida pelo governo e pela presidência da república, de que «tudo isto é culpa de quem gastou, e não de quem aproveitou a moeda única para ampliar as suas vendas para a classe média grega e portuguesa».