Costa diz que Bloco central é como "caçar gambozinos" e quer bazuca europeia com "tiro afinado"
O primeiro-ministro reforça que o país precisa de uma base de entendimento sólida e rejeita bloco central com o PSD.
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António Costa quer um bom plano de batalha para usar a bazuca com os milhões que chegam da União Europeia. O primeiro-ministro lembra que a bazuca tem de ter "tiro afinado" para dar resposta à crise económica provocada pela pandemia.
Em entrevista à revista Visão, António Costa fez um balanço do ano legislativo e prometeu um plano composto para os 58 mil milhões de euros que vão chegar de Bruxelas.
"Não nos podemos queixar da falta de poder de fogo. Só nos podemos queixar se não formos capazes de definir um plano de batalha, e não acertarmos bem a nossa pontaria. A Europa fez a sua parte. Agora compete aos países não estragar o plano."
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António Costa falou ainda do Bloco Central, depois da polémica do fim dos debates quinzenais no Parlamento, votado favoravelmente pelo PS e PSD. O primeiro-ministro compara um acordo entre os maiores partidos com assento na Assembleia da República a uma "caça aos gambozinos".
"Seria um erro proceder à sua reedição. Andar à procura do bloco central é como andar à procura dos gambozinos. É um mito urbano, que não está aí para se concretizar.
O primeiro-ministro afirma mesmo que "uma das razões pelas quais o país tem sido bastante resiliente à emergência de populismos é o facto de ter sido possível encontrar alternativas".
António Costa voltou a estender a mão aos partidos à esquerda do PS, no debate do Estado da Nação. O chefe de Governo considera que Portugal precisa de uma base de entendimento política sólida, na atual crise pandémica e rejeita "competições de descolagem" entre partidos e "calculismos" eleitorais.
Há um consenso geral de que já bastaram a crise sanitária, a crise económica e a crise social, para acrescentar agora uma crise política
Na entrevista à Visão, o primeiro-ministro diz que não quer acrescentar uma crise política à crise económica e social, e apela "ao sentido de responsabilidade de todos" para que se encontrem soluções. Costa adianta que o PCP e o Bloco de Esquerda apresentaram disponibilidade para um acordo, e mostra ainda recetividade para acolher um compromisso com o PAN.
Quanto ao PSD, Costa indica que "a vitalidade da democracia depende da existência de alternativas", mas não evitou fazer uma análise ao atual momento do maior partido da oposição. O primeiro-ministro afirma que o PSD "se foi afastando dos setores mais dinâmicos e inovadores da sociedade portuguesa", exemplificando com o discurso de Rui Rio em relação às alterações climáticas.
"O PSD chega sempre atrasado à História. Quando se voltou a decidir se a aposta era ou não nas energias renováveis foi contra, agora já é a favor. E agora é contra o hidrogénio. Ignorando que a Comissão Europeia acabou de aprovar uma Estratégia Europeia para o Hidrogénio, da qual Portugal faz parte do conselho de administração em conjunto com a Alemanha e a Holanda."
O primeiro-ministro diz que o Governo vai, ainda assim, procurar entender-se com o PSD em questões onde estão essencialmente de acordo, como é o caso da opção europeia e da descentralização autárquica.
Debates quinzenais? "Esse modelo favorece mais a conflitualidade partidária"
António Costa abordou ainda o fim dos debates quinzenais, votado favoravelmente pelo PS e PSD. O chefe de Governo lembra que em 2007 se mostrou contra a proposta apresenta por António José Seguro, e que o modelo "favorece mais a conflitualidade partidária e a degradação das relações pessoais".
"O modelo dos debates quinzenais estava desenhado para ser um duelo e os duelos só têm uma regra simples: ou mata um ou mata outro. Ao terceiro, o caldo está entornado. E isso aconteceu com vários primeiros-ministros e com vários interlocutores partidários das oposições."
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Costa adianta que o novo modelo assenta em debates de política geral com o primeiro-ministro, e política setorial com os diferentes ministros. O chefe de Governo justifica que "um debate com o primeiro-ministro, por mais bem informado que esteja, sobre educação ou sobre saúde nunca será tão aprofundado como pelos ministros da Educação ou da Saúde".
António Costa admite, ainda assim, que o confronto e a oratória fazem parte da democracia, mas lembra que o que mais gosta de fazer na vida política é "resolver problemas".
"Tenho mais gosto pelas funções executivas do que por funções de outra natureza, mas respeito quem tem alergia até à função executiva e gosta de dedicar a sua vida à retórica parlamentar", atira.
Já em relação aos votos contra o fim dos debates quinzenais que surgiram na bancada do PS, António Costa refere que não ficou surpreendido, até porque a bancada socialista "goza de ampla liberdade".
"O PS tem muitas soluções nas novas gerações. Quem lhe diz que não pode ser uma mulher?"
Questionado sobre a futura liderança no PS, António Costa garante que não pretende designar o sucessor, nem vai incomodar ninguém na transição. O primeiro-ministro e atual secretário-geral do PS diz que convive bem com a ambição de militantes do partido.
Costa afirma que não está preocupado com o futuro do partido, e vê as novas gerações socialistas com várias opções. "O PS tem muitas soluções nas novas gerações. Quem lhe diz que não pode ser uma mulher?"
O atual primeiro-ministro recorda que se vai recandidatar à liderança do PS no próximo congresso do partido. Já em relação às eleições internas de 2023, Costa diz que "vai ver se está bem, de boa saúde e com energia".
Eu lido bem não só com as opiniões diversas, como com as críticas, desde que sejam feitas de forma construtiva
Um dos candidatos apontados à sucessão de António Costa, Pedro Nuno Santos, afirmou que não votaria em Marcelo Rebelo de Sousa nas eleições presidenciais. O primeiro-ministro lembra que é secretário-geral do PS e, portanto, "o primeiro militante disciplinado".
Ainda assim, Costa lembra que o partido nunca apresentou um candidato, preferindo apoiar quem se apresentou a eleições, como Mário Soares e Ramalho Eanes, ou dar liberdade de voto.
Quanto à relação com o atual ministro das Infraestruturas e da Habitação, António Costa garante que sempre procurou enriquecer o partido com diversidade.