Costa relativiza protestos: "Numa democracia plural e livre, a contradição existe"
O primeiro-ministro apelou ainda ao aumento dos salários e criticou a CGTP.
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Com o fato de secretário-geral, sem gravata, António Costa apareceu sorridente apesar das manifestações um pouco por todo o país. O primeiro-ministro não fugiu ao tema, lembrando que "numa democracia plural e livre" as vozes críticas fazem-se ouvir.
Milhares de pessoas manifestaram-se pelas ruas de sete cidades portuguesas pelo direito à habitação e, ao mesmo tempo, António Costa discursou no encerramento do congresso da tendência sindical socialista.
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António Costa começou por dizer que "se estivesse noutra condição, porventura, sorriria menos", lembrando que deixou o fato de primeiro-ministro em São Bento. Logo de seguida, acrescentou que "uma democracia plural e livre, é uma democracia onde a contradição existe".
"Os interesses confrontam-se e as posições divergentes se manifestam. Há uns que se manifestam pelo direito à habitação e outros pelo Alojamento Local", recordou. Na passada quinta-feira, durante o briefing do Conselho de Ministros, cerca de 30 pessoas fizeram-se ouvir contra o fim das licenças no Alojamento Local.
O primeiro-ministro considera que os protestos são sinónimo de uma "democracia forte" onde todas as vozes se fazem ouvir, e é esse tipo de sociedade que o primeiro-ministro quer "preservar". "É essa sociedade que nós queremos que continue a ser plural e que tenha uma democracia muito forte, para promover o diálogo e a concertação entre todos, porque é com todos que nós levaremos o país para a frente", disse.
Ao longo do discurso, o primeiro-ministro admitiu que o motor da economia são os salários, lembrando que, na semana passada, o Governo avançou com aumentos na Função Pública. Ao mesmo tempo, justificou o aumento do custo de vida com a inflação que "interrompeu um ciclo de crescimento real dos rendimentos".
Para as empresas, António Costa deixou ainda um apelo ao "esforço" para o aumento dos salários dos trabalhadores, já que "é preciso que a economia cresça para os salários cresceram, mas o crescimento dos salários também faz crescer a economia".
Perante sindicalistas, que se juntaram no congresso da tendência sindical socialista, que já não se realizava há 19 anos, o primeiro-ministro não esqueceu o poder dos sindicatos, principalmente, nas negociações em concertação social. E, com mira apontada a Isabel Camarinha, voltou a criticar a CGTP.
"Esta ideia em que há acordos onde, há partida, sabemos que uma das partes não vai assinar, ao contrário do que se julga, não reforça o poder negocial dos sindicatos. Enfraquece o poder sindical dos sindicatos e isso prejudica os trabalhadores portugueses", atirou.
Costa recuou até aos tempos da geringonça, quando o Governo era suportado pelo PCP, e "nem nessa altura foi possível haver acordos de concertação social reunindo todos os parceiros": "É lamentável que isto tenha acontecido".
As críticas de António Costa foram ouvidas pelos membros da CGTP afetos ao PS, que marcaram presença no congresso socialista.