Em tempo frio, particularmente no planalto barrosão, o cozido, confecionado com produtos da região é ex-líbris da Casa de Padornelos, a norte de Montalegre.
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O planalto do Barroso, bem a norte, território que chega a confundir-se com Espanha, tão intensa é a histórica relação de vizinhança, é região de clima austero e costumes ancestrais.
Um périplo por aquelas terras de lameiros onde pasta o gado da raça autóctone; de fraguedos que desafiam as leis da gravidade e de serranias cobertas de imaculado branco nos dias mais frios, é um manancial de sensações.
Terra rude, de vivência comunitária, moldou o caráter das gentes e levou Ferreira de Castro a tornar-se barrosão por uns tempos, Hospedou-se na Casa do Capitão, em Padornelos, um pouco a norte de Montalegre, e ali escreveu o romance Terra Fria.
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Em 1934, o precursor do neorrealismo confessava que «nem eu sei quando nasceu no meu espírito este amor pelos povos minúsculos, pelas repúblicas em miniatura, por todos os que vivem isolados no planeta».
Padornelos, aldeia que abraça a Galiza, já não vive hoje afastada do mundo como nesses tempos de provação. Mas as marcas desse primitivo viver estão lá, nas casas de granito, que resistem ao tempo e algumas ao abandono, entristecendo as ruas de empedrado gasto pelo passar dos anos.
Nesta povoação, que teve foral atribuído por D. Sancho I, não é tarefa que justifique recurso ao GPS encontrar a Casa de Padornelos.
A remodelação das antigas cortes de gado transformou o piso inferior da casa em acolhedor restaurante integrado na Rede e Tabernas do Alto Tâmega, Duas salas, com teto em madeira, a mais interior com aconchegante lareira rodeada dos típicos potes de ferro.
Com muito mundo e experiência no ramo, Ricardo Moura é o anfitrião; a mulher, Aldina, dirige a típica cozinha no andar superior, onde crepita o lume que acaricia o fumeiro pendente.
O cozido barrosão é o ex-libris da casa, em particular nos meses que vão de janeiro a abril.
Para começar, presunto de região e pão de centeio antecipam a chegada dos ossos de suã, o espinhaço do reco, O sabor da carne abre ainda mais o apetite para as carnes fumegantes que chegam à mesa. Enchidos, batatas, cenouras e couves dão mais cor ao conjunto que faz salivar. O arroz branco acompanha o vistoso e farto manjar. Substancial e calórico, que o frio aperta lá fora.
São 12 as variedades de carne: do porco, do rabo à orelha, cabeça, costelas, tudo é aproveitado. Não faltam a vitela barrosã e os enchidos, as tradicionais chouriças de abóbora, de sangue e de carne. Plena de sabor, a batata de Montalegre, justificou a fama; muito gostosas, as couves e cenouras.
Os ingredientes são todos de produção própria, incluindo as carnes e são necessários três dias para preparar o cozido, utilizando a água da região. Para que tudo saiba bem. O que justifica reserva obrigatória e só para grupos.
Uma condicionante válida para o resto do ano, período em que são opções, entre outras, o cabrito e o leitão assado no forno à moda da casa.
Para acompanhar, vinho da casa, um encorpado tinto da região de Chaves. Sobremesas tradicionais. Serviço caloroso nesta Casa de Padornelos, a norte de Montalegre.
Onde fica:
Localização: R. Valado 9, 5470-341 Padornelos (Montalegre)
Telef.: 276 512 114; 962 418 358