O fantasma do caos não entra nesta cozinha. Fardada com um avental da JMJ, Graça Passanha gere os frigoríficos como nações, deixa ordens escritas em várias línguas e transforma tudo o que é doado em petisco para os voluntários da jornada. Até as aparas de hóstias "dão ótimos snacks".
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"Estou desempregada e decidi dar uso ao meu tempo livre." Assim, pragmática e clara como tudo no espaço em que Graça se move. Todos lhe reconhecem a mania da ordem.
"Como somos uma família muito grande, - já em casa é difícil, com dois filhos -, agora com 300, é dificílimo." Graça gere os donativos que chegam, muitos diariamente, às antigas instalações da Manutenção Militar, no Beato.
São dezenas de litros de sopa, dezenas de refeições prontas "desdobradas para darem para mais gente", fruta usada para aromatizar galões, águas fresca, bolos ou mesmo aparas de hóstias.
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São pedaços de placas fininhas que parecem ter sido roídas por um rato gigante de perfeitos dentes redondos. As aparas "são o que sobra das hóstias, é o que mais se come aqui. São ótimos snacks quando apetece alguma coisinha antes de almoço". A senhora da cozinha esclarece que "não são consagradas", por isso, são mesmo só uma espécie de biscoito para paladares menos exigentes, feitos da farinha e água.
As aparas chegam do Mosteiro do Imaculado Coração de Maria, mais concretamente das mãos das freiras Clarissas que dedicaram algum do seu tempo de reclusão a produzir os milhões de hóstias que serão distribuídos durante as missas da Jornada Mundial da Juventude.
Parece que o snack não vai faltar aos voluntários sob os cuidados de Graça Passanha, como não faltarão, de certeza, as batatas fritas que enchem duas grandes saladeiras logo à entrada da copa.
"Foram doados 7500 pacotes de batatas fritas", confirma Graça enquanto abre a porta de uma dispensa. Está literalmente cheia até ao teto.