Vários criadores de animais ovinos, caprinos e bovinos, de Trás-os-Montes estão a tentar vender grande parte do gado à pressa e não pretendem repor o efetivo para não verem os animais morrer à fome.
Corpo do artigo
São as consequências de mais um ano de seca que, mesmo com a chuva dos últimos dias, não chega para altere o cenário de crise.
Os criadores de animais dizem que 2023 poderá ser muito pior que 2022 porque já estão a faltar forragens e agora já não há reservas como em 2021.
"Não há nada para lhes dar, não sei como vamos resolver o problema. O ano passado ainda tínhamos comida do ano anterior, este ano não temos nada, não há feno, não há centeio". O lamento é de Aníbal Ferreira, de Quintela de Lampaças, no concelho de Bragança. Atualmente, tem 95 cabras, 155 ovelhas e 18 vacas. Mas já teve muitos mais. A seca do ano passado complicou-lhe a vida e este ano vai pelo mesmo caminho, pelo que a solução é vender a maioria dos animais
TSF\audio\2023\05\noticias\30\fernando_pires_gado
Pelo mesmo discurso alinha Hilário Pires, de Nunes, também do concelho de Bragança. Tem 140 ovelhas, mas já teve 200. Sem apoios admite que vai vender e não pondera sequer repor o efetivo. "O mantimento era pouco, o feno era pouco, o ano passado não se colheu e este ano se vamos por este caminho ainda é muito menos, não chove, está tudo a secar. A erva que havia espigou", diz.
Já José Silva, de Soeira, no concelho de Vinhais, tem 330 ovelhas e ainda não se desfez de animais. Mas, admite que a alimentação está a escassear e ainda não chegou o verão. "Falta incentivo, o que estão a dar é muito pouco. Não há jovens. Os anos também estão a ser cada vez mais difíceis em termos de clima", lamenta.
Humberto Figueiredo, da aldeia de Zeive, em Bragança, tem ovelhas e porcos. É mais um dos vários criadores que teve que vender gado. "Ou isso ou deixá-lo morrer. Temos que reduzir, porque os custos cada vez são mais e os lucros cada vez são menos", refere.
O secretário-técnico da Raça Churra Galega Bragançana confirma que quem opta por ter animais já não quer grandes explorações. "Em causa está mesmo a falta de comida. Não tendo o que dar ao gado também não vale a pena apostar em ter em grande número", adianta Manuel Rodrigues.
Sem comida e com a expectativa de mais um ano de seca, os criadores de gado ponderam diminuir ao efetivo e reclamam mais apoios