"O medo é um instinto de sobrevivência", defende o psicólogo Tiago Lopes Lino, que considera que pode ser mais preocupante o caso de uma criança que não tem medo de nada do que um caso de uma criança que tem vários medos.
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"Primeiro é importante percebermos o que é que é o medo, falamos em medo, mas desde que somos caçadores recoletores, o medo sempre nos protegeu", afirma o psicólogo Tiago Lopes Lino que sublinha que é preciso ter medo, afinal trata-se de um instinto de sobrevivência. "É saudável ter medo."
E não vale a pena dizer: "não tenhas medo, o monstro não existe". Como ainda não tem capacidade de abstração, a criança não consegue perceber o que é que é isto do não existe, "se eu estou com medo é porque existe".
Para ajudar as crianças a lidarem com os medos, Tiago Lopes Lino criou o jogo "Medos e Companhia" editado pela Ideias com História. Em entrevista à TSF, o psicólogo fala de alguns dos medos mais frequentes e deixa algumas ideias sobre como os pais podem ajudar as crianças a lidarem com eles.
Na infância é habitual existir uma série de medos e ao longo do crescimento as crianças vão enfrentando novos desafios e receios. Desde o medo de alturas, ao medo de tomar banho, passando pelo medo de fracassar, de ficar sozinho, de ser abandonado ou da separação dos pais.
Os medos ao longo do crescimento
Por volta dos seis meses de idade, as crianças começam a vivenciar os primeiros medos, primeiro de caras estranhas. "Vê caras familiares tranquiliza, vê caras estranhas, assusta-se, chora", explica o psicólogo Tiago Lopes Lino. Aos nove meses já há outro medo - a angústia de separação. "Eu deixo de ver a minha mãe, a minha mãe desapareceu, eu fico com medo." Por volta dos quatro anos, surge o medo do escuro. "Que monstros é que estão no escuro, que monstros é que estão debaixo da cama, tudo o que é fantasia e é assustador para a criança."
Aos seis anos, conta Lopes Lino, começa a desenvolver-se o medo de situações novas. "E compreende-se porque a criança vai para o primeiro ciclo, começa a ter que responder a algumas responsabilidades, a encarar professores novos, colegas novos em espaços maiores." Aos oito anos começa o medo de errar com a questão do desempenho escolar e o medo de desiludir os pais , dos pais já não gostarem dela se ela não for boa aluna."
"Aos dez anos aparece, por exemplo, o medo dos assaltantes e o medo da morte", afirma Tiago Lopes Lino que conta que é geralmente quando as crianças começam a falar da morte que os pais vão à consulta.
Como é aprendemos a lidar com os medos?
"É importante identificá-los e perceber que o medo é uma reação fisiológica a um estímulo que consideramos ameaçador ", responde Tiago Lopes Lino. O psicólogo explica que o sistema nervoso central emite uma espécie de ordem ao sistema simpático e parassimpático que nos prepara para ou lutar, ou fugir ou congelar ( fight, fly ou frozen).
Então como combater por exemplo, o medo do escuro? O escuro assusta porque remete para aquilo de que temos mais medo para além da morte, o desconhecido. "Se eu não vejo eu não sei o que é que lá está e, por isso, tenho medo." Para combatê-lo, Tiago Lopes Lino afirma que pode usar-se a "tradicional" luz de presença, mas é positivo que os pais explorem a escuridão com os filhos. " Porque não fazer disso uma brincadeira, munirem-se todos de lanternas e de capacetes e fazerem uma pequena exploração como se fosse numa gruta?"