Crianças: Portugal é o país da Europa Ocidental mais atrasado nos cuidados paliativos
Especialistas dizem que crianças atingidas por doenças incuráveis podiam sofrer menos nos últimos tempos de vida. Organização Mundial de Saúde coloca-nos ao lado dos países com menos capacidades nesta área.
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Portugal é o país da Europa Ocidental mais atrasado nos cuidados paliativos para crianças. O alerta é feito por um grupo de especialistas que pede medidas urgentes. E um relatório recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) colocou Portugal, a este nível, ao lado dos países mais atrasados do mundo.
Ana Lacerda é pediatra no IPO de Lisboa e coordena o grupo de apoio à pediatria na Associaçao Portuguesa de Cuidados Paliativos. Foi uma das autoras de um relatório concluído em 2013 que alerta que estamos muito longe do resto da Europa e que não existe uma única equipa especializada no assunto.
Num relatório mais recente, de janeiro, a OMS sublinha que as crianças devem ter cuidados paliativos diferentes daqueles que são dados aos adultos. Neste documento, Portugal está no nível zero de cuidados paliativos para crianças, ao lado de países africanos.
Ana Lacerda explica que a avaliação da OMS estará um pouco desactualizada pois já se fez alguma coisa nos últimos anos, mas não anda longe da verdade pois não existem serviços especializados no assunto que organizem estes cuidados e que reconheçam as especificidades das crianças.
Na prática, as crianças portuguesas com doenças incuráveis não deixam de receber cuidados paliativos, o problema é que, provavelmente, não são os mais indicados. No fundo, admite Ana Lacerda, podiam sofrer menos nos últimos tempos de vida.
Os especialistas alertam ainda para a falta de números exactos. Contudo, estimativas com base no que acontece lá fora apontam para 6 mil crianças e jovens que precisam de cuidados paliativos em Portugal.