Os dois linces, que foram trazidos de Espanha, estão no Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico (CNRLI), em Silves.
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Um está deitado e lambe as patas, o outro deambula pelo cercado. Têm cerca de três meses e estão no Centro de Silves há menos de 30 dias. Marta Cabaça observa-os através dos ecrãs de videovigilância. A etóloga estuda o comportamento animal e vai apontando num caderno as suas observações. "Passam a maior parte do tempo a brincar um com o outro", conta.
"Temos tido especial atenção para ver se não desenvolvem comportamentos que possam indicar uma falta de estímulo social", adianta. Mas, por enquanto, mesmo sem a mãe, de nome Peziza, que foi atropelada na zona de Castilla-la-Mancha, em Espanha, as duas crias de lince, dois machos estão a saber caçar sozinhas e a alimentar-se.
Ainda não têm nome. São o Um e o Dois. "Vão ser treinados para os devolvermos à natureza, já que parecem saudáveis", afirma o diretor do Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico.
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Rodrigo Serra explica que as crias são habituadas desde cedo a desenvencilharem-se sozinhas, correndo atrás dos coelhos bravos para se alimentarem, e a não terem contacto com os humanos. "Precisamos que estes animais não vejam o humano como fonte de alimento, até porque não os queremos perto de populações, nem de animais domésticos que as pessoas costumam ter", explica. "Obrigamo-los a caçar presas vivas. É a garantia que temos de que, quando saírem, conseguem matar a sua presa principal, o coelho bravo."
No CNRLI os linces são vigiados por câmaras os técnicos observam-nos numa sala em que estão vários ecrãs. "Desde que fazemos os casais, os emparelhamos, até que os animais nascidos no interior saem, todo esse ciclo é acompanhado em permanência."
Neste centro encontram-se nesta altura 19 adultos e 10 crias, oito nasceram esta primavera em cativeiro. No quadro colocado na parede os investigadores colocam os seus nomes: Queratina, Hermes, René, Flora.
Desde que existe, o Centro situado na serra de Silves já viu nascer 162 crias e a taxa de sobrevivência atingiu os 78%. Destas, 103 foram reintroduzidos na natureza.
Na época de reprodução, os investigadores juntam machos e fêmeas no mesmo espaço.
Mas, tal como os humanos, nem sempre os casais escolhidos se dão bem. "Há situações em que se juntou um casal de linces e começaram a ter lutas sucessivas", lembra Marta Cabaço. É também por isso que há uma vigilância constante, para que, nessas alturas, os tratadores intervenham, distraindo os linces com sons e retirando-os daquele espaço.
Geralmente os jovens linces são libertados no meio ambiente nos meses de fevereiro e março, quando têm cerca de 11 meses, e será o que vai acontecer ao Um e ao Dois.
Nestas idades, os jovens linces têm medo das pessoas. "Se não viram nunca pessoas perto, têm medo, é uma característica dos linces juvenis e subadultos", afirma Rodrigo Serra. No entanto, o diretor do CNRLI adverte que, na natureza, um lince adulto tanto pode fugir como encarar um humano. De qualquer forma, não há registo de que linces adultos tenham atacado pessoas.
Para que durante a reprodução não haja consanguinidade, Rodrigo Serra explica que há intercâmbio constante com os centros espanhóis. "Tentamos que todos os centros tenham o máximo de diversidade genética possível", garante.
Só no ano passado no núcleo existente entre Mértola e Alcoutim nasceram em meio natural 86 crias. E com a conservação da espécie, que está a ser levada a cabo em Portugal e Espanha, o lince ibérico pode brevemente deixar de ser uma espécie à beira da extinção.