"Crimes hediondos." Ornelas promete "tolerância zero", admite expulsões e anuncia debate sobre relatório
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O presidente da Conferência Episcopal, José Ornelas, reconheceu que as conclusões do relatório da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa puseram a descoberto uma "dura e trágica realidade: houve, e há, vítimas de abuso sexual provocadas por clérigos". Por isso, pediu "perdão a todas as vítimas", sublinhou que quer que os abusadores assumam consequências e prometeu "tolerância zero".
"Houve e há vítimas de abuso sexual" na Igreja
Para José Ornelas, o relatório da comissão independente não pode deixar dúvidas: "Houve e há vítimas de abuso sexual provocadas por clérigos e outros agentes pastorais."
"Assinala ainda varias consequências desses crimes que podem estar na origem de sofrimentos incomensuráveis que marcaram vidas inteiras", reconheceu. Por isto, pediu, em nome da Igreja, perdão a todas as vítimas.
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"Nas vossas vidas atravessou-se a perversidade, onde nunca deveria ter estado. Os abusos de menores são crimes hediondos, quem os comete tem de assumir as consequências dos seus atos e responsabilidades civis, criminais e morais daí consequentes", afirmou o bispo de Leiria-Fátima.
José Ornelas diz que o pedido de perdão às vítimas "não pode simplesmente ser uma questão de palavras", avançando que estão já em estudo "várias ideias" para o fazer e considera que estes são "momentos dolorosos, mas também libertadores e é importante que passemos por isso".
Agora é preciso que as vítimas "tenham dignidade e que saibam que não foram elas as culpadas disto".
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Assembleia plenária extraordinária a 3 de março para debater relatório
A Conferência Episcopal vai organizar uma assembleia plenária extraordinária, dia 3 de março, para debater as conclusões do relatório divulgado esta segunda-feira, nomeadamente as recomendações que contém para a Igreja e toda a sociedade.
Que consequências terão os padres abusadores ainda no ativo?
O presidente da Conferência Episcopal explicou que, primeiro, é preciso "conhecer o relatório na íntegra" para perceber quais as consequências que devem ser aplicadas aos alegados abusadores.
"Se há uma denúncia, deve haver uma investigação e depois esses casos são enviados para a Santa Sé. Não temos acesso a casos individuais, não antecipo cenários sem saber do que é que se está a tratar. Não é um processo acabado, é um processo iniciado", referiu José Ornelas.
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Citando o Papa, sublinhou que "abusadores de menores não podem ter cargos" na Igreja.
"Não temos ainda essa lista, havemos de recebê-la e tratá-la convenientemente. Esses processos são tratados na via própria, com os princípios legais portugueses. Temos um processo na Igreja, com uma investigação prévia para saber a plausibilidade. Uma vez que seja possível que isso tenha acontecido, tem de ser comunicado à santa sé e de lá virão as indicações e instauração de um processo, que não é assim tão demorado", explicou.
Conferência Episcopal investiu cerca de "200 mil euros" na comissão independente
A criação de uma Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa foi iniciativa da Conferência Episcopal, em 2021, e custou cerca de "200 mil euros". Dinheiro que, para José Ornelas, valeu "bem a pena gastar".
"É natural que isso possa subir ou descer, não sei. Posso garantir que não faltámos à comissão com aquilo que era necessário. Isso está claro para todos. Nestas coisas vale bem a pena gastar uns tostões. É uma realidade que nos penaliza, não é fácil tratá-la, mas não podemos deixá-la como está, não nos resignamos nunca a isso", referiu.
No entanto, o bispo não revela, para já, se a comissão será prolongada.
"Uma coisa é certa: temos no terreno comissões diocesanas. Esta comissão tinha uma tarefa específica, que termina agora a sua função, mas não se esgota aqui. Há outras instituições do país com as quais vamos ter também de trabalhar em parceria", acrescentou José Ornelas.
Debate de abusos sexuais na JMJ? "Não se faz nenhum evento sem que esta dimensão esteja presente"
As opiniões sobre se os abusos sexuais na Igreja deviam ser debatidos na Jornada Mundial da Juventude têm-se dividido dentro da instituição, mas o presidente da Conferência Episcopal não tem dúvidas de que o assunto estará presente no evento.
"Não vivo para a imagem, para fazer um teatrinho não me punha com este trabalho todo. Isto cai como uma nódoa em pano limpo. Somos uma Igreja que cometeu, comete e cometerá erros", assumiu o bispo.
