Uma das ameaças já foi resolvida com uma autorização especial do Governo, mas associação ambientalista diz que há mais sistemas de tratamento e valorização do lixo em risco.
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A empresa que valoriza e trata o lixo nas regiões de Lisboa e Oeste (Valorsul) foi autorizada pelo Governo a encontrar uma forma alternativa para alimentar as estações de tratamento e valorização de resíduos orgânicos com origem em restaurantes, cantinas, hotéis, centros comerciais ou mercados.
Estas estações produzem adubo para a agricultura e biogás que gera energia elétrica,, mas com o confinamento social e o fecho de muitas atividades ficaram praticamente sem alimento para os microorganismos ou bactérias que fazem essa decomposição nos digestores da estação de tratamento e valorização orgânica, a favor do ambiente, tratando resíduos biodegradáveis.
Filipa Pantaleão, diretora técnica da Valorsul, explica à TSF que a quebra neste tipo de resíduos da área alimentar ronda os 80%, pelo que era essencial recorrer a fontes alternativas.
A autorização do Ministério do Ambiente para usarem resíduos agrícolas e do setor de agro industriais foi agora publicada.
A responsável acrescenta que sem esta nova fonte de alimento os microorganismos ou bactérias podiam morrer e teríamos "graves problemas depois quando a pandemia tivesse um fim e fosse preciso arrancar de novo com esta instalação, o que podia demorar muitos meses".
Há mais sistemas em risco
Rui Berkemeier, da associação ambientalista Zero, concorda com esta decisão da Valorsul e do Governo pois podíamos assistir a uma espécie de morte, "à fome", dos microorganismos que tratam os resíduos, levando a uma paragem do sistema durante mais de meio ano.
No entanto, o ambientalista defende que é preciso avançar com mais medidas do género noutras regiões do país e noutras áreas do tratamento do lixo.
Em causa, segundo Rui Berkemeier, outras unidades espalhadas pelo país de tratamento biológico de resíduos urbanos para recolha do chamado lixo comum (indiferenciado, não separado pelas empresas ou particulares), que por causa da Covid-19 deixaram de ter um primeiro tratamento de separação logo a seguir a serem recolhidos.
Com a pandemia essas unidades de tratamento mecânico e biológico foram suspensas e "se todos os microorganismos que estão nessas unidades não forem alimentados vão morrer, pelo que para voltar a arrancar com os digestores serão precisos vários meses com paragens de 6, 7, 8 ou 9 meses no tratamento de resíduos orgânicos de grande parte do país", explica.
A Zero defende que também nestas unidades de reciclagem dos resíduos orgânicos o Governo deve avançar com uma decisão semelhante à tomada para a Valorsul, permitindo que recebam outros resíduos que não apenas os vindos dos resíduos urbanos".
Por exemplo, avança Rui Berkemeir, também nestas unidades deverá ser autorizado o uso de resíduos vindos da indústria agro-alimentar.