Crise dos cereais? Produtores defendem fabrico nacional para resistir à volatilidade de preços
À TSF, a Associação Nacional de Produtores de Cereais diz que é preciso aproveitar "o clima mediterrânico em que vivemos".
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A Associação Nacional de Produtores de Cereais (ANPOC) quer promover o fabrico em Portugal. À TSF, a associação explicou, esta segunda-feira, que o agravamento do conflito no Médio Oriente é apenas a mais recente peça na composição de um cenário complicado, num setor cada vez mais pressionado pelas alterações climáticas.
"O conflito entre a Rússia e a Ucrânia teve um impacto muito grande, porque ambas as regiões são grandes produtoras (...). Aliado a isto, há outro fator que é a China, grande consumidor e que está a comprar em todo o mundo. Neste momento, o maior stock mundial de cereais está na China. Têm cereais para dois anos", começa por afirmar o presidente da ANPOC, José Palha.
"Depois temos ainda os fenómenos climáticos extremos sentidos nos últimos anos nas regiões produtoras e os conflitos no Médio Oriente", acrescenta.
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José Palha nota que o valor dos cereais tem-se agravado, exemplificando com o preço pago por tonelada de trigo para fazer pão: "Em 2021, antes da guerra valia entre 230 a 240 euros e, em 2022, com o início da guerra e com a falta de oferta no mercado, valeu cerca de 400 euros."
O presidente da ANPOC reforça que Portugal importa mais de 90% dos cereais que consome e defende que o caminho para resistir a esta volatilidade passa por valorizar a produção nacional.
"Temos a vantagem do clima mediterrânico em que vivemos. Os cereais são colhidos no verão, não temos contaminações, não temos microtoxinas e temos uma qualidade muitíssimo superior aos cereais importados", afirma.
O entrave à produção nacional relaciona-se com o custo de venda do produto, mas a associação garante estar reunir esforços para que "exista disponibilidade do consumidor para pagar um pouco mais pelo produto, sabendo que de facto o que está a consumir é de grande qualidade".
José Palha indica que este ano as grandes superfícies já compraram quatro mil toneladas de cereais portugueses e garante que os preços vão estabilizar.
"Nós em 2022 tivemos o trigo mais do dobro daquilo que teve no ano anterior e quase o dobro daquilo que está hoje. O preço que o consumidor paga pelo plano não foi impactado da mesma forma que a matéria subiu, o que quer dizer que um aumento de preço e uma estabilidade de preço para os agricultores portugueses terá um mínimo efeito na carteira do consumidor e terá um enorme efeito na produção nacional que mantém toda esta máquina a funcionar", conclui.