Unidos na redução de impostos com percentagens diferentes, Rui Rio e Assunção Cristas em pouco discordaram no debate na SIC. Regionalização é uma das divergências entre partidos que, se tiverem maioria depois das eleições, vão formar coligação.
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Não foi um pedido de namoro, mas houve um flirt. PSD e CDS deixam claro que a estratégia de ir cada um por si a eleições é a que faz sentido nesta altura, mas Rui Rio formaliza a coligação pós-eleitoral em caso de maioria no centro-direita no que aos sociais-democratas diz respeito.
"Marcamos a nossa identidade, não há problema nenhum, e depois, se tivermos a maioria, tomamos a decisão de ter a solução que sempre tivemos ao longo da história", diz o presidente do PSD acrescentando que apenas falava por si. Cristas sublinha que, perante um cenário de maioria, há uma "óbvia possibilidade" de entendimento entre os dois partidos.
Num debate com pouco ou nenhum confronto direto, Assunção Cristas nota a convergência entre os dois partidos dando o exemplo da redução dos impostos. "É um bom exemplo para se perceber como o CDS e o PSD convergem num aspeto que é essencial para o país que é baixar impostos, mas depois o grau de compromisso é diferente", nota Assunção Cristas.
E quem baixa mais os impostos foi um dos grandes temas deste duelo na SIC. Enquanto o PSD usa 25% da folga orçamental estimada para baixar impostos, o CDS acena com 60%. Nas contas centristas, os restantes 40% são para abater na dívida; já os sociais-democratas apontam 25% para aumento do investimento, 44% para aumentar a despesa corrente e 6% para o superavit orçamental.
Cristas sublinha que o CDS "é mais ambicioso" do que o PSD, Rio explica que os centristas estão a utilizar uma fórmula diferente da dos sociais-democratas para estimar esta redução nos impostos.
Algo que separa os dois líderes partidários é também a postura para com o PS. Rui Rio já admitiu viabilizar um eventual governo socialista com acordos estruturais, algo que para Assunção Cristas é impensável.
"O CDS é o único partido com representação parlamentar que diz com uma clareza cristalina que não fará nenhum acordo estável com o PS, que não estará no governo e que não dará apoio a António Costa", nota a líder centrista.
Rio utiliza a fórmula que tem usado sempre: o interesse nacional. "Esteja na oposição ou no governo, o meu dever é para com o país e, portanto, tenho de procurar com os outros partidos, mesmo que esteja na oposição, ser útil ao país", sublinha o presidente do PSD que, no entanto, adianta que em 2019, por haver três eleições, é necessário "mostrar as diferenças" que existem entre sociais-democratas e socialistas.
Na regionalização, se o assunto vier a ser discutido na próxima legislatura, existem divergências entre os partidos. Rui Rio garante que é defensor da descentralização e da desconcentração e admite apoiar a regionalização se for acompanhada da redução da dívida pública. Já Assunção Cristas rejeita com a justificação de que a regionalização significa mais despesa para o Estado.
Perguntas de algibeira
No final do duelo, a jornalista Clara de Sousa dirigiu uma "pergunta de algibeira" a cada um dos líderes políticos. Assunção Cristas não quis responder se se revia no tom e na mensagem passada pelo líder da Juventude Popular, Francisco Rodrigues dos Santos, sobre o despacho do governo para a adaptação de casas de banho e balneários nas escolas a alunos em processo de transição de género.
Na altura, a JP ameaçou recorrer à justiça se o Governo não suspendesse o despacho, dizendo que este representava "um ataque vil à liberdade de ensino e de educação, ao direito de livre desenvolvimento da personalidade dos jovens portugueses e ao direito dos pais educarem os seus filhos". Numa publicação no Facebook, Francisco Rodrigues dos Santos escreveu mesmo que "a escola não é um acampamento do Bloco de Esquerda".
Ora, no duelo, a líder centrista não respondeu, dizendo que o assunto "não interessa às pessoas em casa" que querem saber mais sobre as propostas do CDS.
Já para Rui Rio uma pergunta relativa a António Capucho que está de volta ao PSD depois de ter sido expulso na anterior direção do partido. Rio não considera que a readmissão de Capucho no PSD seja uma afronta a Pedro Passos Coelho, considerando que a expulsão foi "injusta".
Elogiando o currículo "notável" e o contributo de Capucho na sociedade, Rio remata: "se cortasse relações com todos aqueles com quem discordei, já não falava com ninguém".