Cruz Vermelha de Bragança cria projeto para acolher pessoas trans do distrito
Por Bragança, a delegação da Cruz Vermelha Portuguesa criou um espaço de atendimento e informação às pessoas trans daquele distrito, em que existe a incongruência entre o sexo atribuído e o género experienciado.
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O projeto "Bragança Diversidades Contigo" pretende ser uma porta aberta para facilitar a acessibilidade a consultas especializadas, auxiliar o processo de transição, através do fornecimento de roupas ajustadas à identidade de cada e até ações de formação, expondo a pluralidade na identidade de género.
Joana Gomes, Psiquiatra e Sexóloga Clínica, está há pouco tempo a exercer a sua atividade profissional em Bragança. Em algumas consultas, foram surgindo casos de pessoas que precisavam de apoio e de informação por sentirem que a sua identidade de género está em conflito e que queriam aceder a tratamentos ou psicoterapia específica.
"Foram-me aparecendo situações de pessoas a pedirem ajuda em que o cerne da preocupação estava radicado na questão da sua identidade de género. Dada a minha formação, consigo fazer esta abordagem inicial na psiquiatria, mas com as carências de algumas especialidades aqui no distrito, estas pessoas precisavam de se deslocar a essas especialidades, ao Porto ou a Coimbra, para ter consultas mais específicas e elas não tinham forma de conseguir, de forma gratuita, estas deslocações, bem como a eventualidade de necessitarem de alojamento", diz.
Joana Gomes lembra que "já existe em Portugal a Lei da autodeterminação de género que promove que estas pessoas tenham igualdade de acesso ao SNS se tiverem escassez de recursos", adianta.
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Esta voluntária na estrutura local da Cruz Vermelha Portuguesa lançou o desafio para a criação de um espaço de atendimento e informação a estas pessoas para as ajudar a viver a sua identidade de forma plena, mostrando também à comunidade que a atribuição de um sexo biológico à nascença não deve ter um caráter determinista. "Uma porta aberta para poder aproximar estas pessoas daquilo que elas precisam, já que, muitas vezes, estão em condições económicas desfavoráveis e, por vezes, afastadas das suas famílias. Normalmente podem precisar de apoio em termos de vestuário, para o processo de transição, e de apoio no transporte a consultas especializadas. Queremos apostar na formação, expondo a pluralidade na identidade de género".
A importância da criação deste projeto é sublinhada pela porta-voz do Movimento LGBT "Arco-Íris", criado recentemente no distrito de Bragança, por considerar que ainda são pessoas fortemente excluídas. "O distrito ainda é muito conservador e ainda existe muito preconceito. Muitas pessoas optam por não falar sobre isso, porque ao nível do trabalho e da escola ainda há muita discriminação e existe algum receio de represálias, e até mesmo no seio familiar existe este tipo de preconceito", confessa a líder deste Movimento que considera que o projeto "pode ser uma luz ao fundo do túnel".
O projeto "Bragança Diversidades Contigo" pretende apostar em ações de formação e prestar auxílio no processo de transição, através do fornecimento de roupas ajustadas à identidade de cada um. Para além disso, pretende estabelecer protocolos com empresas de produtos de estética e criar uma bolsa de profissionais na região, para que as pessoas mantenham seguimento em proximidade em psicoterapia afirmativa.