Cuidadores informais mais expostos a riscos emocionais devido a pandemia e confinamento
Ordem dos Psicólogos Portugueses alerta para os riscos da pandemia para quem cuida em termos de saúde, explicando que a Covid-19 veio piorar uma situação já de si difícil.
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Nem sempre reparamos nos cuidadores informais. Estão muitas vezes em casa. Não têm folgas nem férias e prescindem da vida normal para tratarem de um pai, mãe, filho, marido ou mulher.
É uma classe com pouca visibilidade na sociedade e que preocupa quem trabalha no setor da saúde mental.
Renata Benavente, membro da direção nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses, garante que detetaram várias situações de vulnerabilidade devido à pandemia, apesar de não ter dados concretos.
A psicóloga clínica explica os cuidadores sentiram mais ansiedade devido às pessoas de quem cuidam terem um risco acrescido de infeção por Covid-19. Além disso, muitas das respostas de apoio complementar a estas famílias fecharam ou reduziram a capacidade
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"Os centros de dia e serviços de apoio domiciliário ficaram com a sua atividade reduzida ou suspensa e isto traduz-se num acréscimo de tarefas diárias para quem cuida. Portanto, aquele período que podia ser de algum alívio no que diz respeito às tarefas de cuidar, deixou se existir", refere.
A sobrecarga adicional de passar a estar 24 horas com as pessoas de quem cuidam trouxe riscos adicionais em relação ao bem-estar emocional dos cuidadores. Apesar de ainda não se saber os efeitos concretos que a pandemia vai trazer em termos de saúde mental, Renata Benavente antecipa algumas consequências: alterações sono ou apetite, sintomas de ansiedade, dificuldade em tomar decisões, lacunas na qualidade dos cuidados que são prestados, esquecimentos, falhas de memória, o choro fácil, a perda de prazer em fazer atividades que, normalmente, eram prazerosas.
Renata Benavente defende que é importante que os cuidadores ou quem está por perto consigam identificar o que não está bem e tomem medidas para evitar que os cuidadores entrem em estado de exaustão.
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"Grupos de ajuda mútua, programas psico-educativos para estas pessoas e apoio emocional individual", sugere a psicóloga.
Renata Benavente defende que o isolamento a que os cuidadores muitas vezes estão obrigados desliga-as daquilo que é o mundo real, incluindo das relações sociais, essenciais da existência humana.
"Muitas vezes, estas pessoas acabam por se colocar em segundo plano e poderão ter alguma dificuldade em assumir que não estão bem", sublinha.
Renata Benavente pede aos cuidadores para se acautelarem e apresenta algumas dicas.
"Manter as rotinas, não negligenciar o autocuidado, a alimentação, o exercício, os contactos sociais. A pessoa tem de estar atenta a isso e procurar momentos que aliviem um pouco esta tensão emocional", explica.
A psicóloga clínica acrescenta que a aprovação do estatuto do cuidador veio trazer um reconhecimento formal muito importante e garante que não é só a questão financeira é importante para quem cuida saber que o que faz tem valor.