Cuidados continuados. Diferenças salariais para outros profissionais de saúde aumentaram
À TSF, José Bourdain diz que os baixos salários aliados à dificuldade do trabalho têm um impacto negativo no recrutamento de novos profissionais.
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O presidente da Associação Nacional de Cuidados Continuados afirma que as diferenças salariais entre os trabalhadores do setor e outros profissionais de saúde acentuaram-se no início deste ano.
"Diferença que se acentuou imenso em janeiro deste ano, em que no setor sem fins lucrativos, o chamado setor social, nomeadamente os cuidados continuados, os enfermeiros tiveram um aumento de 20 euros, por comparação com os quase 94 euros de um enfermeiro na administração pública", explica à TSF José Bourdain.
Um relatório da OCDE divulgado esta terça-feira avisa que os trabalhadores nos cuidados continuados têm de aumentar em cerca de 30% nos próximos dez anos e defende um aumento do investimento público nesta área, referindo que as diferenças salariais para outros profissionais de saúde é de 10%.
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Em Portugal, o problema está nos salários e, consequentemente, no recrutamento: "O setor social, de ciência, idosos, infância e cuidados continuados, estão a viver momentos cada vez mais dramáticos e não conseguem recrutar pessoas. Nós estamos a tentar trazer trabalhadores estrangeiros para Portugal e não estamos a conseguir contratar pessoas, porque em Portugal, apesar de termos umas centenas de milhares de pessoas no desemprego, não estão disponíveis para trabalhar neste setor, porque é um trabalho difícil, trabalhamos de 24 horas por dia, 365 dias por ano, as pessoas têm folgas rotativas e trabalham por turnos, o salário é mau e o trabalho é difícil. Se não conseguirmos remunerar melhor, não conseguimos pessoas para trabalhar."
O presidente da associação refere que "100% da receita de uma unidade de cuidados continuados é decidida pelo nosso Governo", mas "ao longo dos últimos anos não aumenta um cêntimo".
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"A pergunta é: se o salário mínimo sobe, os custos em geral, nomeadamente com a pandemia, a inflação e os aumentos do setor energético, como é que se consegue pagar esse aumento de custos se não houver uma componente de receita que possa compensar? Por essa razão é que muitas unidades têm fechado portas, nomeadamente no espaço de dois anos e pouco foram 342 camas que encerraram, o que é muito significativo, precisamente porque as unidades não têm dinheiro suficiente para suportar os custos", critica.
Com esta conjugação de fatores, José Bourdain duvida que o relatório da OCDE produza mudanças.
"Desde 2015 que tentamos estabelecer um diálogo com o Governo. Demonstramos as medidas corretas a tomar e o Governo simplesmente não quer saber. O relatório da OCDE é mais um que vai cair em saco-roto e o Governo vai continuar a olhar para o lado e a ignorar os problemas", afirma.
AOrganização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico pede intervenção urgente na área dos cuidados continuados, lembrando que para responder ao envelhecimento da população os trabalhadores deste setor têm de aumentar em cerca de 30% na próxima década.
Um relatório esta terça-feira divulgado sublinha o "rápido envelhecimento da população" nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), frisando que esta situação aumentará muito a procura por trabalhadores nos serviços de cuidados continuados.