O bispo emérito de Setúbal comparou Portugal a um comboio desgovernado e disse que o anúncio de mais medidas foi um tiro no peito. D. Manuel Martins receia casos de fome dramáticos.
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«Foi um tiro que me deram», confessou esta sexta-feira à TSF, ao falar nas novas medidas de austeridade.
«Já vivia desanimado e cheio de medos feitos de presente e, sobretudo, feitos de futuro no que diz respeito à situação económica e social do nosso pais. Com estas medidas, que me parecem ter atingido tudo aquilo que é vital no organismo social, fiquei fora de mim», disse, sublinhando: «Não sei como é que iremos sair desta».
O bispo emérito de Setúbal junta a sua voz à dos Indignados, considerando que se deve dar «atenção a esses movimentos».
«Este tipo de democracia não serve, é uma farsa democracia», comentou, apoiando a contestação na rua.
D. Manuel Martins, que ficou conhecido nos anos 80 como o bispo vermelho pela denúncia que fez das situações de fome no distrito de Setúbal, disse que não pode ser senão «pessimista» e que o futuro pode ser ainda mais dramático do que na década de 80.
«Quando recordo chego à conclusão que se calhar não foi nada (...) Tínhamos a certeza que, tendo em conta muitas circunstâncias, aquilo não passava de uma loucura, que o comboio ia um pouco destrambelhado», disse.
Contudo, continuou, agora já «nem o comboio está na linha», por isso não pode «descarrilar».