Da imagem de partido moderado ao apelo à união interna. Como o PAN se prepara para as eleições que aí vêm
Inês Sousa Real espera recuperar o grupo parlamentar do PAN. Líder da lista opositora interna adianta que não será candidato nas legislativas.
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Afastar a ideia de que é uma força política radical e apostar na imagem de um partido moderado. Em tempo de definir estratégia para a luta eleitoral que aí vem, o Pessoas-Animais-Natureza (PAN) quer apresentar-se como uma alternativa à extrema-direita para a formação de governo - e, para o conseguir, a líder, Inês Sousa Real, pede união aos críticos internos.
No último congresso do partido, em maio, os ânimos exaltaram-se, com as divergências entre as duas alas do partido a ficarem bem evidentes. O movimento "Mais PAN, Agir para Renovar", encabeçado pelo antigo deputado do PAN Nelson Silva (que foi eleito para a Comissão Política Nacional numa lista opositora à da atual direção), denunciava "falta de democracia interna" no partido.
Agora, com um novo desafio eleitoral à porta, desencadeado pela crise política em que o país mergulhou, Inês Sousa Real deixa, em declarações à TSF, um apelo direto à oposição interna: "Neste momento, todas as pessoas estão convocadas para, até ao próximo dia 10 [de março], trabalharmos em conjunto, para termos o melhor resultado possível".
"Não o fazermos é estarmos a pôr em causa a capacidade de representação do PAN e de conquistarmos um bom resultado", avisa.
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Ouvido pela TSF, Nelson Silva adianta que decidiu não integrar as listas do partido para as próximas legislativas e assume que partilha o desejo de Inês Sousa Real de que o PAN consiga esse "bom resultado" em março. O objetivo está mais do que anunciado: a recuperação do grupo parlamentar que o partido perdeu, depois do pesado resultado das últimas legislativas, quando ficou reduzido a uma deputada única, após ter chegado a ter quatro deputados na Assembleia da República.
Para isso, o PAN assume a imagem de um partido afastado de radicalismos - um posicionamento potenciado pela aliança com o PSD na Madeira.
"Claramente, o PAN apresenta-se como uma força política moderada", sublinha Inês Sousa Real.
"Podemos, efetivamente, ser disruptivos em muitas matérias, como a abolição da tauromaquia - que mais ninguém defende como o PAN defende na Assembleia da República -, mas os portugueses já sabem que contam, neste momento, com o PAN para ter um voto útil e um voto que faça a diferença", alega.
Inês Sousa Real não teme, por isso, efeitos negativos, a nível nacional, das opções tomadas nas eleições regionais, em que o partido viabilizou o Executivo de direita de Miguel Albuquerque.
"O que aconteceu na Madeira só veio demonstrar e reforçar que o PAN é um partido útil à democracia", sustenta. "Por um lado, demonstrámos que os portugueses não têm de ser forçados a escolher entre uma maioria absoluta e alianças com forças populistas antidemocráticas."
Mas se, na Madeira, o PAN se chegou à direita, na capital tem-se chegado ao PS, fazendo bandeira de ser o partido com mais propostas aprovadas pela maioria socialista. Não receia ficar associado ao estigma de partido "cata-vento"? A líder assegura que não. "Acima de tudo, sentimos a consciência tranquila de quem sempre trabalhou. Para nós, seria muito mais fácil fazer oposição por oposição."
"O país precisa de moderação, o país precisa de bom senso, e precisa também que os partidos políticos parem para pensar, não se somos de esquerda ou de direita, mas quais são as medidas que vamos trazer para cima da mesa", defende.
Medidas que potenciem algumas das principais causas do partido, como a consagração da proteção animal na Constituição, uma transição energética aliada à proteção ambiental, ou a garantida do direito à habitação, com especial foco no problema das pessoas em situação de sem-abrigo.
E, para trazê-las para cima da mesa, com os olhos postos no eleitorado mais jovem, o PAN aposta numa recém-nascida juventude partidária.
"Os Jovens PAN têm já o seu caminho feito", garante Inês Sousa Real, adiantando que os estatutos da juventude deverão ser aprovados em breve. "Parece-nos, de facto, muito importante que haja cada vez mais esta proximidade" com os jovens, frisa.
"Lamentamos que o processo de revisão constitucional tenha ficado pelo caminho [nesta legislatura, após a demissão do primeiro-ministro e a convocação de novas eleições], porque uma das medidas que tínhamos apresentado era, precisamente, que os jovens pudessem votar a partir dos 16 anos. Sabemos que, quanto mais cedo os jovens começarem a participar, mais ganham o hábito", refere, afirmando que este pode ser o caminho para combater a abstenção eleitoral.
Para já, mesmo sem os votos dos jovens a partir dos 16 anos, as sondagens dão uma tendência de crescimento do PAN para 3% - quase o dobro daquilo que o partido conseguiu nas últimas eleições. Números que, apesar da perspetiva otimista, não descansam Inês Sousa Real. "Vamos continuar a trabalhar", assegura.