Pacheco Pereira, Lobo Xavier, Jorge Coelho comentaram a situação política do PSD, mas também a polémica das golas inflamáveis.
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O tema das golas inflamáveis e o Conselho Nacional do PSD marcaram a Circulatura do Quadrado desta quarta-feira, numa altura em que o Governo volta a ter de lidar com uma polémica devido aos contratos públicos com familiares de governantes.
Numa análise ao que aconteceu em Guimarães, na reunião social-democrata, Jorge Coelho começou por atirar que "o PSD é um partido em perfeita desagregação", no qual "não há uma cultura de pluralismo". E no atual cenário, o ex-ministro socialista aponta o dedo ao líder do partido: "Isso acontece quando as lideranças são fracas, quando são fortes o que se devem preocupar é como unir o partido à volta da liderança e de um programa específico."
Jorge Coelho acredita que "ninguém consegue ganhar as eleições com um partido dividido e à pancada uns com os outros" e recorda que "os dirigentes do mais alto nível do PSD não quererem ir para deputados porque é a nota maior de não acreditar minimamente que se possa vir a ter êxito futuro".
"É a primeira vez que um líder do PSD se apresenta como não podendo, à partida, ser primeiro-ministro. É um representante de uma linha diminuída, triste, um pouco desorientada e desanimada e tem apenas o valor dessa representação", enaltece Lobo Xavier, frisando que não acredita que "tudo seja culpa direta e objetiva e integral da presidência de Rio", mas que as "opções" do líder ajudaram, nomeadamente quando "procurou uma depuração da linha ideológica do PSD que não tem nenhuma adesão à realidade dos militantes nem dos grandes centros de poder".
O centrista antecipa uma "grande reestruturação e revolução à direita de desilusão que só se resolve com fusão". "Estes partidozitos que andam para aí da direita e liberais só vieram agravar o problema da crise, não significam nada e só agravam e vão agravar a distribuição de deputados", salvaguardou.
Já Pacheco Pereira fala numa "degradação muito significativa da possibilidade de um dirigente político partidário, seja o Rio seja qualquer pessoa, não tendo poder de constituir um grupo parlamentar com autonomia e capacidade política para ser ele próprio agente no plano político".
O antigo deputado acredita que Rio está a cavar a sua sepultura e que o facto de ter escolhido Luís Filipe Menezes não foi uma jogada correta. "Associar à direção de Rio um homem que conhece melhor do que ninguém e se quer mudar o partido e ter uma linguagem diferente não pode metê-lo nas listas", concluiu.
As golas inflamáveis e as pessoas
Pacheco Pereira acredita que "a chave está na escolha das pessoas" e que é preciso sermos "capazes de escolher políticos que não precisam de ser justiceiros nem moralistas, precisam é de ter uma sensibilidade, não devem permitir nos partidos pessoas que vivem neste ambiente".
O antigo deputado do PSD acredita que enquanto não se construirem "direções políticas em vários partidos com este tipo de sensibilidade" e "enquanto na Assembleia da República não houver um órgão constituído por pessoas que sabemos que não pactuam minimamente, nunca se muda".
"As leis são uma forma de se ocultar o problema em Portugal porque vão ser sempre exponenciais. Numa dada altura, na AR só há duas pessoas: ou uma pessoa que não tem emprego e para quem aquele salário é o melhor do mundo ou os ricos que vão para lá fazer lóbi", apontou.
No mesmo sentido, Lobo Xavier revelou que quando se discute se o secretário de Estado deve ou não ser demitido, "saltamos por cima do mais importante do problema".
"O mais importante do problema é uma coisa triste, seja este Governo ou outro qualquer, que é uma espécie de um folclore de distribuição a aldeões de uns alegados kits de proteção ou de alerta compostos de coletes e uma manga alegadamente de proteção contra os fumos que são feitos por empresas que são apenas contratadeiras porque não fazem os produtos que se candidatam a fornecer e são apenas intermediários... Só por causa dos seus conhecimentos políticos e das suas relações aparecem a candidatar-se à obtenção de vantagens por parte do Estado", acusa o antigo deputado centrista.
Jorge Coelho, por sua vez, refere que "para que tudo isto seja visto com todo o rigor, o parecer que o Conselho Consultivo da PGR aquilo que disser é o que tem de ser feito", frisando que vivemos num "Estado de direito e a lei tem de ser cumprida".