Números da empregabilidade são usados por muitos alunos na escolha do sítio onde devem estudar, mas Tribunal de Contas diz que não revelam a realidade dos diplomados desempregados.
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Os indicadores oficiais de desemprego de cada curso superior estão longe de serem fiáveis. O alerta consta de um relatório do Tribunal de Contas (TC) sobre o ensino superior que diz que os números apresentados não representam, na verdade, todos os diplomados desempregados.
O TC refere-se concretamente aos números apresentados pela Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência (DGEEC) no portal infocursos.mec.pt.
É preciso "prudência na leitura dos dados e na afirmação de que um determinado curso ao apresentar aí uma menor/maior taxa de desemprego ou até nula, isso signifique que promova uma maior/menor empregabilidade", pois existem "limitações na natureza da informação de base".
A maior limitação está no facto de apenas serem tidos em conta os desempregados registados nos centros de emprego (IEFP, bem menos do que a realidade), "não sendo [por isso] representativos de todos os diplomados desempregados.
Além disso, há "ainda a possibilidade de existirem diplomados que, apesar de registados nos centros de emprego, podem estar a trabalhar, mas numa área que não a da sua formação, ou até não ter informado ou cancelado a inscrição no IEFP".
Conclusões que surgem numa altura em que o relatório sublinha que as próprias universidades e politécnicos têm um especial interesse em apresentar bons resultados ao nível da empregabilidade para promoverem os seus cursos.
A taxa de desemprego dos diplomados média no país indicada nos dados oficiais é de 8%, mas os relatores do TC alertam que este número da Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência não é "representativo do universo dos desempregados".
São aliás estas taxas que segundo o TC têm vindo a ser consideradas na abertura de vagas nos cursos, com base nas orientações do Secretário de Estado do Ensino Superior.
Falhas que já levantaram, também, alertas, no passado, da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), que em relatórios de 2012 e 2014 disse que "as avaliações feitas da empregabilidade podem ser objeto de manipulação ou interpretação enviesada, com vista a valorizar aspetos mais conseguidos ou a omitir piores resultados", sendo "essencial e urgente criar instrumentos fiáveis e credíveis que permitam diagnósticos seguros sobre a empregabilidade dos diplomados no ensino superior", com uma "metodologia comum" que oriente bem as políticas do ministério.
Razões que também levam o Tribunal de Contas a dizer que o governo tem de criar conceitos claros de empregabilidade e de desemprego, bem como definir os indicadores a adotar nesta matéria pelas universidades e politécnicos para obter "informação homogénea, transparente e comparável", que não levante dúvidas a um aluno que procure o melhor curso para o seu futuro profissional.
Politécnicos concordam com as críticas do Tribunal de Contas
Joaquim Mourato, antigo presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), que nessa qualidade respondeu a este relatório do TC, concorda com as críticas presentes no documento.
À TSF, o também responsável pelo Instituto Politécnico de Portalegre recorda que muitos diplomados não estão nos centros de emprego.
Numa altura de grande concorrência na captação de alunos entre instituições do ensino superior, o presidente do Instituto Politécnico de Portalegre recorda que ninguém escolhe um curso que nestes dados do Ministério apresenta maus resultados e, pela forma como são construídos estes indicadores, acabam por prejudicar, naturalmente, os politécnicos, especialmente os que ficam longe das grandes cidades.