Daniel Adrião: o crítico que iguala Costa com um mandatário mais famoso do que o candidato
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De dois em dois anos, nas últimas quatro eleições no PS, o partido atribui um gabinete a Daniel Adrião. É o candidato com mais presenças em eleições, a par de António Costa, mas tem perdido sempre. Quem o conhece descreve-o como "coerente" e "persistente".
Daniel Adrião concorre agora contra José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos, foi o último a apresentar a candidatura às eleições socialistas, apesar de já ser um rosto conhecido nestas andanças. Opositor interno de António Costa, perdeu sempre para o ainda primeiro-ministro, mas no seu no gabinete, no Largo do Rato, há até uma bandeira de apoio a Costa, das legislativas de 2022.
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A candidatura bate-se por uma "Democracia Plena", o lema de campanha, que permita a reforma do sistema eleitoral, para a introdução do voto nominal, mas também a dissociação dos partidos com os cargos de Governo. Adrião já garantiu que, se concorrer e for eleito primeiro-ministro, deixa a liderança do PS.
O mandatário mais conhecido do que o candidato
Há poucos rostos conhecidos entre os apoiantes de Daniel Adrião, ao contrário dos adversários internos, mas há um que sobressai: o ator Paulo Matos que é o mandatário da candidatura. Conhecido dos portugueses do teatro e da televisão, tem "intervenções pontuais" na política e é militante do PS há vários anos.
Foi no partido que conheceu Daniel Adrião, há mais de 20 anos, e incentivou-o a avançar com a quarta candidatura porque "é uma voz indispensável para que o PS não se feche em si próprio e nas suas nomenclaturas".
Em conversa com a TSF, Paulo Matos descreve o amigo e candidato como "afável" e "empático", e salienta que "não está na esfera do poder" ao contrário dos adversários, daí a necessidade de concorrer a eleições, mesmo após três estrondosas derrotas.
"O Cabo da Boa Esperança foi dobrado à quarta vez. Portanto, se tivessem desistido à terceira, o mundo podia ter sido muito diferente", responde Paulo Matos.
Daniel Adrião admite que, em muitas ações de campanha, Paulo Matos é mais reconhecido pelo público do que o próprio candidato. O ator explica que "as pessoas dirigem-se a ele por razões diferentes", já que "a televisão, nos atores e nas figuras públicas, cria uma familiarização" com o público.
"Coloco-me ao serviço disso, exatamente como se fosse um trampolim. Ainda bem que as pessoas vêm ter comigo, para rapidamente as colocar em contacto com aquele de quem sou mandatário", acrescenta.
Diretor de campanha é autarca em Oxford
O diretor de campanha de Daniel Adrião tem viajado entre o Reino Unido e Portugal, em tempo de campanha interna. Tiago Corais vive há dez anos em Inglaterra e é vereador pelo Partido Trabalhista em Oxford.
À TSF, nota que no Reino Unido "há uma organização de baixo para cima", ao contrário do que acontece em Portugal. Os militantes são questionados se querem ser candidatos, "num processo transparente", o que levou Tiago Corais ao cargo.
A "queda" do Governo, desde logo, do primeiro-ministro António Costa, é um dos exemplos que o diretor de campanha de Adrião utiliza para reforçar o seu ponto, já que Costa "foi atraiçoado por um sistema demasiado centralista, em que o líder tem todas as decisões e os militantes quase nenhumas".
Daniel Adrião é "um vencedor", define Tiago Corais, com "ideias muito fora da caixa". Vencedor porque "acredita nas suas ideias, apresenta-as e vai à luta".
A luta faz-se com Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro, dois candidatos que já desempenharam funções executivas e com um maior historial político, pelo que a campanha de Adrião "é mais difícil e tem de ser feita com mais criatividade e inteligência".
A vitória nas eleições parece bastante distante, até olhando para os últimos resultados contra António Costa, mas Tiago Corais nota que "o que é mais inspirador são as pessoas que se candidatam quando têm uma margem pequena de vitória".
"Admiro mais pessoas como o Daniel Adrião que vão à luta e se apresentam pelas suas ideias, e não pelos apoios que poderão ter para vencer", descreve.
Resta saber se as "ideias" de Daniel Adrião serão suficientes para roubar votos a Pedro Nuno Santos e a José Luís Carneiro. As eleições decorrem a 15 e 16 de dezembro, pelas várias federações do partido. O congresso, em Lisboa, é a 6 e 7 de janeiro.
