
Daniela Braga
Diana Quintela/Global Imagens
Trata por tu o sucesso e convive com a inteligência artificial há 20 anos. Daniela Braga, líder da Defined Crowd, conseguiu um financiamento de 50 milhões. Na última Web Summit, deu uma entrevista à TSF.
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Nunca uma startup portuguesa tinha angariado tantos milhões em tão curto espaço de tempo. Para que vai servir o financiamento? Para ter a trabalhar o dobro das pessoas até ao final do ano (passando de 250 para 500 profissionais) e para o desenvolvimento de novos produtos no mercado internacional.
A empresa portuguesa DefinedCrowd, liderada pela portuense Daniela Braga, que fornece dados de alta qualidade para dispositivos de reconhecimento por voz, conseguiu um investimento de mais de 50,5 milhões de dólares na série B de financiamento de empresas start-up. Tudo graças a muito trabalho e "bastante networking", como sempre reconhece.
O anúncio foi esta terça-feira, a startup portuguesa de inteligência artificial conquistou novos investidores e estabeleceu vários recordes.
Na última Web Summit, em Lisboa, a empresária Daniela Braga explicou à TSF porque foi importante cruzar a formação académica em Linguística e Crítica Literária com a programação informática. Estamos a contar a história de alguém que fala seis línguas e que, depois da literatura, experimentou a engenharia, aproveitando uma bolsa europeia na Faculdade de Engenharia do Porto. Daniela lamenta que as universidades europeias sejam ainda muito preconceituosas em relação à transversalidade de conhecimentos.
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"A Europa ainda é muito conservadora nas áreas clássicas. Eu gosto bastante mais da abordagem americana, embora não tenha estudado lá, porque realmente permite estar a tirar um curso de letras ou de ciências políticas e estás a tirar, ao mesmo tempo, programação; é muito mais fluido e há toda uma oportunidade de as pessoas fazerem um curso completo praticamente com uma composição de áreas. A nossa sociedade e o mundo em que vivemos atualmente precisa dessa interdisciplinaridade para toda e qualquer coisa", afirma, em entrevista à TSF.
"Há todo um conjunto de áreas que são importantes para o sucesso profissional das pessoas que vivem no nosso mundo e que não se aprende nas universidades, talvez porque as universidades ainda não perceberam que das duas uma: ou deixam as pessoas construir o seu currículo e dar lhes essa flexibilidade para fluírem, ou ficam para trás."
Não se esquiva ao preconceito de que foi alvo, quando decidiu mudar de área: "Eu vinha de letras e, durante anos, punham-me uma etiqueta atrás. Eu não vejo assim as coisas e não é assim. Tanto não é assim que aqui estou eu, não é?". A gargalhada vem de seguida.
Daniela não tem dúvidas em reconhecer a importância crucial do domínio de várias línguas: "Tão fundamental que, de todos os meus colegas da altura que vinham de Engenharia Informática e de Engenharia Eletrotécnica, ninguém está a trabalhar nesta área porque esta nossa área de tecnologia de inteligência artificial é híbrida".
Daniela Braga não receia pelo impacto que a inteligência artificial, matéria com que trabalha há vinte anos, possa vir a causar nas nossas vidas. "Acredito no lado positivo, mas claro que a tecnologia como um todo tanto pode ser usada para o bem, como pode ser usada para o mal. Eu acredito que toda a gente que está envolvida nesta área tem a melhor das intenções de tornar a nossa vida melhor. Todos os investigadores que trabalham e trabalharam comigo há 20 anos, estamos todos nesse lado positivo, mas claro que sempre é preciso haver uma consciência social de todos os setores da sociedade no sentido de começarem a regulamentar certas coisas, porque, obviamente, podem cair nas mãos erradas."
Que conselhos daria a empresária portuguesa a quem esteja hoje em dia a estudar crítica literária e linguística? Que mude de vida porque talvez seja coisa sem futuro? "O que eu digo é que não. Ninguém pense que o curso é o final ou que determina o percurso de uma pessoa. Um curso é uma carta de alforria para fazer qualquer coisa a que a pessoa se atira. Na realidade, é o curso superior que dá essa confiança. Mais ainda o mestrado e doutoramento, mas, na realidade, um curso nunca deveria ser o fim, é simplesmente o princípio."