Das prioridades às possíveis soluções. Especialistas sem "expectativas demasiado elevadas" para plano do Governo para a saúde
A TSF ouviu a Associação dos Administradores Hospitalares, Ordem dos Médicos e Fundação Para a Saúde para saber quais as expectativas para este plano de emergência
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O presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, Xavier Barreto, confessa não esperar milagres no plano de emergência para a saúde que o Governo vai apresentar depois da reunião do Conselho de Ministros que está a decorrer. Em declarações à TSF, o responsável alertou que as dificuldades que se sentem no Serviço Nacional de Saúde não se resolvem de um dia para o outro.
"Não tenho as expectativas demasiado elevadas porque, como sabemos, estes problemas estruturais, estes problemas que decorrem essencialmente da falta de investimento acumulado ao longo de muitos anos no Serviço Nacional de Saúde, não se resolvem com nenhuma bala de prata, com medidas milagrosas. Isso não existe. Precisamos, de facto, de medidas estruturadas, medidas que tenham um racional, que partam dos recursos que temos, que sejam as mais eficientes e as mais racionais. Precisam também de continuidade ao longo de muitos anos. Não estou à espera de nenhum milagre. Estou à espera de um plano que seja estruturado, que seja racional e que nós possamos naturalmente seguir ao longo dos próximos anos", admitiu Xavier Barreto.
O responsável considera que há duas questões que são prioritárias.
"O acesso às listas de espera é um reflexo da falta de acesso, seja a consultas externas, seja a cirurgias. Nós sabemos que pouco mais de 30% dos doentes espera além daquilo que é clinicamente adequado. Por outro lado, nos serviços de urgência temos tido uma extrema dificuldade em garantir a resposta nas mais diversas áreas. Estas são as duas grandes prioridades, agora naturalmente que não são as únicas. A questão da eficiência, da produtividade, do investimento. Tudo isso é importante e espero que o plano possa conter medidas para cada uma dessas dimensões", refere o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares.
O plano do Governo para a saúde vai dar prioridade à recuperação das listas de espera para consultas, cirurgias e exames e também à resposta de cuidados materno-infantis e aos cuidados de saúde primários. Só nos últimos dois meses foram registados mais 36 mil utentes sem médicos de família e em abril quase 1 600 000 portugueses estavam na mesma situação, avança esta quarta-feira o jornal Público.
O bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, indica soluções para este problema.
"Este plano de emergência tem que ter, nesta questão dos cuidados de saúde primários e dos médicos de família, duas vertentes. Uma primeira vertente que possa assegurar a estas pessoas que não têm médico de família uma resposta imediata quando o seu problema de saúde não é um problema de saúde que necessita de uma ida a um serviço de urgência hospitalar, por um lado. Por outro lado, este plano de emergência tem que iniciar aqui um caminho para que o Serviço Nacional de Saúde tenha mais médicos de família", propõe Carlos Cortes.
No Fórum TSF, o presidente da Fundação Para a Saúde, Constantino Sakellarides, considerou que o plano do Governo é bem-vindo, mas alertou que um maior recurso ao setor privado e social pode levar à saída de mais profissionais de saúde do SNS.
"Se essa programação acontecer para alívio da necessidade das pessoas em ter acesso a cuidados de saúde e, ao mesmo tempo, não haver a preocupação de criar as tais condições que atraem e fixam profissionais no Serviço Nacional de Saúde podemos entrar facilmente num ciclo vicioso, ou seja, mais recursos no Serviço Nacional de Saúde, mas saem os profissionais. Como saem os profissionais, o SNS fica com menos capacidade de resposta. Como tem menos capacidade de resposta, os recursos a mais são transferidos para outros setores e isso cria um ciclo vicioso que é necessário evitar para garantir a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde", acrescentou Constantino Sakellarides.
