De demissão em demissão: três anos de Governo marcados por 11 saídas (até à de Costa)
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Com maioria no Parlamento, mas sucessivamente abalado por polémicas, a demissão do próprio primeiro-ministro, terça-feira, foi a derradeira no terceiro Governo de António Costa. Recorde todos os casos:
António Costa
O primeiro-ministro, António Costa, anunciou esta terça-feira que apresentou a demissão do cargo na sequência da abertura de um inquérito, pelo Supremo Tribunal de Justiça, à sua conduta nos negócios do lítio e hidrogénio verde, e anunciou que não tenciona recandidatar-se.
"Obviamente, apresentei a minha demissão a sua excelência o senhor Presidente da República" e "a demissão foi aceite", revela Costa. Cabe agora ao Presidente da República "ponderar qual é a data a partir da qual produz efeitos a demissão". Até lá, garante, vai manter-se "em funções até ser substituído".
O primeiro-ministro garante que se dedicou "de alma e coração a servir os portugueses" e que "estava disposto" a cumprir o mandato "até ao termo desta legislatura".
Pedro Nuno Santos
A saída do antecessor de João Galamba foi motivada pela polémica que envolve a TAP. "Face à perceção pública e ao sentimento coletivo gerados em torno" do caso, Pedro Nuno Santos decidiu "assumir a responsabilidade política e apresentar a sua demissão".
António Costa deixou um "agradecimento" a Pedro Nuno Santos "pela dedicação e empenho com que exerceu funções governativas ao longo destes sete anos, quer nas áreas da sua direta responsabilidade, quer na definição da orientação política geral do Governo".
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Hugo Santos Mendes
No mesmo dia, o secretário de Estado das Infraestruturas de Pedro Nuno Santos apresentou o pedido de demissão no "seguimento das explicações dadas pela TAP" sobre a saída de Alexandra Reis, "que levaram o ministro das Infraestruturas e da Habitação e o ministro das Finanças a enviar o processo à consideração da CMVM [Comissão do Mercado de Valores Mobiliários] e da IGF [Inspeção-Geral de Finanças]".
Carla Alves
De um dia para o outro. Carla Alves foi empossada secretária de Estado da Agricultura a 4 de janeiro e saiu no dia seguinte. A antiga governante esteve no cargo cerca de 24 horas, tendo o pedido de demissão sido "prontamente aceite".
Em causa estava o facto de Carla Alves ter várias contas bancárias arrestadas, no âmbito de uma investigação que envolvia o seu marido e antigo presidente da Câmara de Vinhais, Américo Pereira.
Numa nota de imprensa enviada na altura às redações, a saída da governante deveu-se ao facto de Carla Alves "entender não dispor de condições políticas e pessoais para iniciar funções no cargo".
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Alexandra Reis
Alexandra Reis era secretária de Estado do Tesouro quando, a 27 de dezembro, se demitiu a pedido de Fernando Medina, ministro das Finanças. O caso ocorreu na sequência da saída da ex-secretária de Estado do Conselho de Administração da TAP, na qual recebeu 500 mil euros.
A demissão sucedeu-se menos de um mês depois de Alexandra Reis ter tomado posse e quatro dias depois de estalar a polémica com a TAP.
Fernando Medina explicou que tomou a decisão "no sentido de preservar a autoridade política do Ministério das Finanças num momento particularmente sensível na vida de milhões de portugueses".
Alexandra Reis recebeu uma indemnização de meio milhão de euros por sair antecipadamente, em fevereiro, do cargo de administradora executiva da transportadora aérea, em circunstâncias que estão a ser criticadas por toda a oposição e questionadas até pelo Presidente da República.
António Costa afirma que desconhecia os antecedentes de Alexandra Reis. Em junho, foi nomeada pelo Governo para a presidência da Navegação Aérea de Portugal (NAV) e no final do ano escolhida para secretária de Estado do Tesouro.
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João Neves
Um mês antes, a 29 de novembro, o ministro da Economia demitiu o secretário de Estado da Economia, João Neves devido a "divergências de fundo" e uma rotura com António Costa Silva desde a polémica sobre a descida do IRC.
O ministro defendeu a redução transversal do imposto sobre as empresas, contrariando que defenderam publicamente os seus próprios secretários de Estado.
Pedro Cilínio foi o nome escolhido para ocupar o seu lugar.
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Rita Marques
Pelo mesmo motivo terá sido afastada a secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Rita Marques.
"Penso que é uma renovação natural", declarou o ministro da Economia na sequência das duas saídas. "Temos que adaptar sempre os nossos organismos e os nossos mecanismos aos desafios do país e temos de responder a todas as exigências que a sociedade tem."
Nuno Fazenda de Almeida substituiu-a.
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Miguel Alves
Pouco mais de duas semanas antes, a 10 de novembro, o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro demitiu-se depois de ter sido acusado pelo Ministério Público pelo crime de prevaricação. Miguel Alves tinha sido nomeado há apenas dois meses quando a Operação Teia veio a público.
Em causa estão suspeitas de favorecimentos a empresas de Manuela Couto, mulher do ex-autarca socialista Joaquim Couto, entre de 2015 e 2016, durante o exercício do mandato de Miguel Alves como Presidente da Câmara Municipal de Caminha.
A saída motivou uma minirremodelação: António Mendonça Mendes substituiu Miguel Alves como braço direito de António Costa, deixando a secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais, que foi assumida, por sua vez, por Nuno Santos Félix.
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Marta Temido
A crise nas urgências hospitalares ditou a primeira baixa de peso, quando o Governo levava apenas cinco meses. A morte de uma grávida, embora não diretamente relacionada com o estado das urgências, foi o pretexto para a saída da ministra que enfrentou a pandemia.
"Como sempre disse, a primeira responsável pelas coisas que correm bem e mal no Ministério da Saúde era a ministra, e a ministra entendeu que estava criado um ambiente que exigia que houvesse uma responsabilidade pessoal. Entendi que devia ser minha", sustentou Marta Temido.
Manuel Pizarro assumiu a pasta da Saúde.
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António Lacerda Sales
Também António Lacerda Sales cessou funções como secretário de Estado Adjunto e da Saúde, deixando "uma palavra de gratidão e de reconhecimento" a Marta Temido.
"É com sentido de dever cumprido que hoje cesso as funções de secretário de Estado Adjunto e da Saúde. Nesta e noutras missões sempre me orientou o propósito de servir o meu país. Considero um privilégio ter tido a oportunidade de o fazer também nestas funções de elevada responsabilidade e exigência, onde pude dar o melhor de mim ao serviço duma dimensão da existência humana à qual tenho dedicado toda a minha vida: a saúde", escreveu na sua página do Facebook.
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Fátima Fonseca
Também em solidariedade para com Marta Temido, Fátima Fonseca deixou o cargo de secretária de Estado Adjunta e da Saúde, reassumido o lugar de deputada do PS na Assembleia da República.
Ricardo Mestre e Margarida Tavares foram os nomes escolhidos para ocupar os lugares na secretaria de Estado da Saúde.
Sara Abrantes Guerreiro
A primeira demissão deste Governo ocorreu a 2 de maio. Cerca de um mês depois de tomar posse, a então secretária de Estado da Igualdade e das Migrações, Sara Abrantes Guerreiro, renunciou ao cargo por motivos de saúde.
Questionado sobre se a saída foi motivada pela polémica com os refugiados ucranianos em Setúbal, Marcelo Rebelo de Sousa afastou essa hipótese: "Infelizmente foi uma questão pessoal de força maior", explicou.
A especulação sobre o caso levou mesmo António Costa a dizer-se "envergonhado": "As pessoas não deixam de ser seres humanos por serem membros do Governo e, como todos, correm o risco de ter problemas na sua vida pessoal e de saúde."
Foi substituída por Isabel Almeida Rodrigues, até então deputada do PS, eleita pelo círculo dos Açores.
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