De Jerusalém a Roma – uma Igreja Imperial?
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Anselmo Borges é padre da Sociedade Missionária Portuguesa, estudou Teologia, em Roma, Ciências Sociais, em Paris, Filosofia em Coimbra e Tobinga, na Alemanha. É cronista do Diário de Notícias e comentador de assuntos religiosos, nas diversas televisões e rádios portuguesas.
Nesta entrevista à TSF, registada sob o título "De Jerusalém a Roma, uma Igreja Imperial?" e conduzida por Manuel Vilas Boas, aborda as mais momentosas questões de caráter bíblico e moral da Igreja católica, governada pelo Papa Francisco, um desejado reformista, após os pontificados conservadores de João Paulo II, polaco, e Bento XVI, alemão. Francisco é o primeiro papa jesuíta e latino-americano.
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Um Deus que é pai e mãe
Anselmo Borges revela e denuncia nesta entrevista "a velhice da pregação na Semana Santa", que considera que "o Deus de Jesus Cristo assassinou o próprio filho".
O teólogo prefere dizer, insistentemente, que "Deus é bom, é pai e mãe" e que "o evangelho é uma notícia boa e felicitante".
Chama de "imbróglio político" a condenação à morte de cruz do fundador do cristianismo, por Pilatos, o governador romano, em exercício político de Roma, em Jerusalém.
Critica o comportamento do povo palestiniano, que, sistematicamente, aplaude o Mestre e pede a morte infame para o judeu subversivo.
O povo não perdoa: pede cúmplices, como Simão de Cirene, que ajude na concretização o ato de vingança contra quem blasfemou contra Deus e a religião de Estado.
O teólogo avisava que as multidões são perigosas, quando servem impérios que não são fiáveis.
Avançando na narração bíblica, Anselmo Borges refere-se à Ceia de despedida dos seus amigos e discípulos, e, inexplicavelmente, de cabeça perdida, naquele fim de tarde. Estavam lá o traidor, o negacionista e o medo.
Depois da morte e Ressurreição, os apóstolos de Cristo instituíram-se de respeito pela memória do Mestre em comunidades carismáticas.
Na tradição religiosa judaica, revelava-se o Deus das trovoadas e das vinganças.
Então deu pretexto ao surgimento sereno de uma certa religião, por comportamentos inovadores: a oferta da face esquerda a quem bate pela direita.
Há mulheres neste grupo pouco cumpridor.
Trazer Deus à terra?
A mística das bênçãos foram entregues a quem se encarregou de fazer trazer Deus à terra.
Estavam os ministérios ordenados "para servirem as comunidades": os presbíteros, os mais velhos em sabedoria; os bispos, coordenadoras das muitas comunidades que não paravam de crescer.
No Templo, partem-se os poderes: os que governam e os que obedecem.
Chamam-se bispos e padres, de um lado; do outro, os leigos, como se não soubessem de nada.
Para que não houvesse impureza ritual, taparam-se as forças do sexo.
Pela história, a meio de dois séculos, impôs-se a proibição de sexo, chamada celibato.
No século XVI, em Trento, terra de França, a lei do celibato impôs-se para que a economia fosse mais fácil e razoável.
Segundo a teologia tradicional, verifica-se uma transformação ontológica, operada em quem era ungido...
Na parte final da entrevista, o teólogo Anselmo Borges diz que o Papa Francisco refere o celibato como lei a poder ser alterada.
É que nem sequer é dogma de fé.
Com o Sínodo à porta, requerem-se respostas às uniões homossexuais, de homens e de mulheres; à comunhão para recasados e à ordenação presbiteral de homens e mulheres, dirigindo dos altares as comunidades cristãs.
Como girândola final, o teólogo puxou por palavras de tom apocalíptico: "Se não despertarmos todos do sono, corremos o risco de arrasar a nossa humanidade que perdeu o espaço da esperança."
