Medos, fobias e ansiedades. A origem e o destino dos nossos medos. O chão que serve de conforto. O Coliseu do Porto promove o debate com gente da música, das letras e da terapia. Hoje ao fim da tarde.
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Esta quinta-feira, 29, o Coliseu Porto Ageas leva a cabo o debate "Que medo é este? De onde vem e para onde vai". Partindo dos diferentes medos - da leve ansiedade à fobia -, "das formas como o medo opera e de como nos podemos servir dele, nesta conversa será feito o raio-x a esta emoção primária que desempenha um papel crucial na sobrevivência de todos os animais. E que, no ser humano, tem o poder de influenciar decisões, crenças e até de definir o presente e o futuro da sociedade". Com Eduardo Sá, Rui Zink e Sónia Tavares, o debate insere-se no novo projeto "Mantras Coliseu", que em cada mês aborda uma temática diferente. O mês de junho tem como tema o binómio Medo-Chão e o director do Coliseu, Miguel Guedes, afirma que a conversa desta tarde "é sobretudo uma forma de continuarmos os mantras do Coliseu, todos os meses, abordando um tema que nos pareça que tenha, que tem impacto nas pessoas e que tenha a ver com as reflexões que as pessoas fazem todos os dias e que podem podem gravitar à volta de de algo maior, ou de outras ideias, nomeadamente de pessoas que têm muito pensamento sobre (o assunto)".
Sobretudo, o que o binómio Medo-Chão indica é que "há lugares onde nós nos sentimos seguros, lugares de segurança, conforto e paz para muita gente", afirma Guedes, reconhecendo que não se trata "necessariamente um único chão, podem ser vários. Resta sabem como podemos canalizar o medo, essa emoção quase primária, para um território de conforto, para esse chão. Ou chãos. Podem ser vários, esse chão pode estar na terra ou nas nuvens, na família ou nos amigos, na companhia ou na solidão ou nas artes".
O dicionário define medo como "estado emocional resultante da consciência de perigo ou de ameaça, reais, hipotéticos ou imaginários". Para o músico, jurista e director do Coliseu portuense, "numa altura em que há mais abertura para discutir a saúde mental, convidamos todas as pessoas a virem pensar ao Coliseu sobre como é que o medo se processa, como é que nos servimos dele de forma racional e onde é que podemos ir buscar o nosso chão, seja às relações mais próximas ou às terapias".
O painel será constituído por Eduardo Sá, reconhecido psicólogo clínico e psicanalista, Rui Zink, escritor e professor universitário, e por Sónia Tavares, coautora e vocalista da banda The Gift e uma das vozes do projeto musical Amália Hoje. A cantora da banda de Alcobaça diz ter "a pretensão de imaginar que compuseram a canção "Medo", da Amália Rodrigues, para mim". Sónia Tavares revela: "Pedi ao meu colega de banda Nuno Gonçalves que fizesse um arranjo só de cordas para eu poder cantar, só não sabia que essa canção seria o "Medo" e que seria a Dona Amália gentilmente a emprestar-ma" nos Amália Hoje, projeto que presta homenagem a Amália Rodrigues, que, curiosamente, admitiu que sempre teve medo de pisar os palcos.
E Miguel Guedes, alguma vez teve medo de pisar um palco? "Eu particularmente já senti ansiedade. Sente-se sempre a ansiedade antes de qualquer coisa, quando estamos perante os outros. No momento em que nós pudermos amolecer ao ponto de acharmos que o que nós fazemos para os outro não é significante, não estaremos a sair da dimensão do nosso quarto ou da nossa sala de estar ou da nossa criação intrínseca. Então, nunca comunicamos. Mas quando comunicas, há sempre aquele momento em que tu lidas com a aprovação ou rejeição e até com a interpretação que todos fazem do teu próprio trabalho. Ou até aquela ideia: será que te compreendem, independentemente da valoração? Isso é muito importante para um artista, para todos nós, nas nossas relações de qualquer estirpe".
A TSF insiste e quer saber se o que provoca mais ansiedade ao músico e comentador televisivo na pele de adepto, será um concerto um concerto dos Blind Zero, um espetáculo que organiza no Coliseu ou um jogo importante do FC Porto? "(Risos) Para mim nenhuma dessas situações me causa particular medo. Eu julgo que a grande ansiedade tem a ver com as expectativas. Acho que grande parte dos medos das pessoas se relacionam com as expectativas que têm em relação ao que podem ou devem fazer. E, nesse sentido, chegar ao fim e ter a sensação de que não cumpriste aquilo a que te comprometeste é, porventura, a grande fonte de ansiedade", afirma o diretor do Coliseu do Porto.
Com vasta experiência científica nas áreas da Psicologia, da Psicanálise e da Psicossomática, outros dos participantes na sessão desta tarde, Eduardo Sá, aborda habitualmente o tema do medo aplicado à educação parental. Alguns dos seus programas na imprensa e rádio têm como título "O que fazer quando as crianças têm medo?" ou "Estamos a deixar os mais novos com medo do futuro".
Por seu lado, Rui Zink imaginou, em 2012, "um mundo onde um instalador nos entra em casa para instalar o medo, como se instala uma box de TV, mas sem que tenhamos feito a subscrição do serviço". "O medo devolve-nos a infância do mundo", escreveu o escritor e professor universitário.
O debate vai ter moderação de Inês Cardoso, diretora do Jornal de Notícias e terá um momento aberto para perguntas do público. A entrada é gratuita com levantamento prévio de bilhete (máximo dois por pessoa), até à hora do debate e tendo em conta a limitação do espaço.