Depois de três meses encerrado, internamento do Centro das Taipas vai reabrir: em três décadas perdeu 2/3 das pessoas
Encerrado desde o início de março, o internamento do Centro das Taipas, em Lisboa, vai reabrir na próxima segunda-feira, dia 26
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“Vamos funcionar no limite: o internamento tem 18 camas e só vamos ter 10 abertas”, revela o diretor do centro. O Centro das Taipas, que funciona atualmente nas instalações do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, dá consultas desde o seu início na área das dependências, e tem internamento para pessoas que consomem substâncias aditivas e não conseguem suspender o consumo com tratamento ambulatório. No entanto, a determinada altura, foi impossível manter o serviço aberto.
“O internamento foi sofrendo reduções de pessoal e chegou um momento, em dezembro do ano passado, em que três enfermeiros se reformaram e deixou de haver pessoas para fazer escalas de 24 horas”, conta Miguel Vasconcelos. Além disso, o número de pessoal auxiliar é também muito reduzido. A alternativa foi encerrar.
"O Centro das Taipas que abriu em 1987 com 150 funcionários, nesta altura tem 50. Em 26 anos perdemos 2/3 [das pessoas]", revela. “Com os quatro enfermeiros que conseguimos contratar, não todos a tempo inteiro, vamos ter o número mínimo de pessoas para manter aberto o internamento”, explica o médico psiquiatra.
No país, além de Lisboa e Porto, os internamentos para as dependências situam-se em Coimbra e Faro, dois centros “em risco sério” porque, “com menos pessoas, é difícil manter a qualidade e quanto mais a casa aberta”, lamenta.
Para piorar a situação, a Unidade de Alcoologia de Lisboa, que também pertence ao Instituto dos Comportamentos Aditivos e Toxicodependências (ICAD), encerrou há cinco anos. "Desde o tempo da pandemia, desde 2022, começamos a internar aqui no Centro das Taipas também os utentes da Unidade de Alcoologia", refere. "A nossa lista de espera antes de encerrar era de dois meses, o que já é muito", admite. Nesta altura, acredita que é um pouco menor, “deverá rondar os 45 dias”.
O médico lembra ainda que grande parte das pessoas que procuram os serviços têm problemas de álcool e a maioria das camas para internamento destinam-se a estes pacientes, visto que a sua patologia pode ser urgente e necessária. “A privação do álcool é muito perigosa, pode provocar a morte”, explica.
“Temos também tido muitas primeiras consultas de cannabis e de cocaína, sob a forma de crack, e também as novas substâncias psicoativas, como o ecstasy, o MDMA e as anfetaminas”, conta. Mas, com frequência, os utentes apresentam vários consumos associados: álcool e anfetaminas, ou álcool e crack ou outras substâncias. “O álcool esteve sempre presente no nosso internamento”, aponta.