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A Emissão Especial TSF terminou com o "Pensamento Cruzado", em direto de Pedrógão Grande, no "quartel-general" dos psicólogos que deram apoio de emergência às vítimas dos incêndios.
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Foi naquela tarde de junho que o fogo chegou e mudou para sempre a vida de dezenas e dezenas de pessoas em Pedrógão Grande. Tantos e tantos perderam a casa. Tantos e tantos perderam as pessoas que faziam dela a sua casa. Mais do que a paisagem à volta, foi o interior das pessoas que enegreceu.
Rui Ângelo foi o coordenador das equipas de apoio psicossocial que prestaram o apoio de emergência nos incêndios. Conta que aquilo porque estas pessoas passaram foi uma "experiência-limite", uma dor que vai além de tudo aquilo que uma pessoa comum irá experienciar durante a vida.
O trabalho dos psicólogos passa por tentar "minimizar a dor emocional" e "diminuir a possibilidade trauma", explica Rui Ângelo.
No primeiro momento de choque, a ajuda tem de passar essencialmente por aquilo que se chama de escuta ativa - "ouvir o que a pessoa tem para dizer e fazer com se sinta valorizada, compreendido, mostrar-lhe empatia e compaixão", esclarece a psicóloga Margarida Cordo.
"Sabemos que vamos morrer mas é mais injusto quando não é, naturalmente, o acabar da vida, mas quando a vida é roubada", constata o psiquiatra Vítor Cotovio, "quando as pessoas são apanhadas pela morte".
"Isso tem um grande impacto na forma de reagir dos familiares, ficam fixados nos sentimentos de revolta", explicou o psiquiatra.
Transformar a revolta em ação
"A questão da esperança é fundamental", declara Rui Ângelo.
O trabalho dos profissionais no terreno passa também pela capacitação das pessoas, por saber dotá-las de resiliência - um termo que vem da física e que traduz a capacidade de uma matéria se moldar, depois de ter mudado de forma, voltando à forma original.
"Não há soluções mágicas", alerta Vítor Cotovio, "é um processo por tentativas". Mas ter uma causa é parte fundamental. "Nas palavras de Nietzsche, quando temos um porquê, aguentamos quase qualquer como".
"Uma ostra, quando é atacada por um grão de areia, transforma-se numa pérola. Queremos transformar todas estas pessoas em pérolas", diz Margarida Cordo.
As ligações entre as pessoas, a solidariedade, é fundamental depois de uma tragédia como esta. Mas, repare-se, não necessariamente uma "solidariedade paternalista", mas sim uma intervenção que, além de técnica, seja humana.
"Os técnicos estão também a aprender, com aquilo que aconteceu. Têm de estar disponíveis para ouvir o que as pessoas têm para lhes dizer e ensinar", lembra Vítor Cotovio.
Uma intervenção que tem de ser de continuidade, respeitando sempre que "o tempo de cada um é o tempo de cada um".