Descobertas 12 espécies nunca relatadas pela ciência no futuro Parque Marinho do Recife do Algarve
Maior parte das associações de pescadores concorda com a criação da área protegida, mas não há consenso total.
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A proposta de criação do Parque Natural Marinho do Recife do Algarve - Pedra do Valado já foi aprovada e o projeto entra esta sexta feira, dia 23 de junho, em consulta pública. É uma área de 156 quilómetros quadrados no mar com uma biodiversidade marinha única que se pretende proteger, incluindo 12 espécies nunca relatadas pela ciência.
"Aquela baía é muito rica, tem jardins de gorgónias, que permitem criar habitats para espécies com valor comercial, como salmonetes, douradas, robalo, sargos e polvo", conta Jorge Gonçalves. O investigador do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve salienta que foram registadas cerca de 900 espécies no local, 12 delas nunca tinham sido relatadas pela ciência e 45 foram registadas pela primeira vez em Portugal.
A Pedra do Valado, um dos maiores recifes naturais de Portugal, deverá ser Parque Natural Marinho até final do ano de 2023. O processo tem sido levado a cabo pelo CCMAR e pela Fundação Oceano Azul. O Parque Marinho abrange a área marítima dos concelhos de Albufeira, Silves (Armação de Pêra) e Lagoa. Vai até aos 50 metros de profundidade e dos 156 quilómetros quadrados (Km2) de extensão, 20 Km2 serão de proibição parcial ou total de pesca.
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Jorge Gonçalves garante que serão dadas compensações aos pescadores, que num primeiro momento poderão ter algumas perdas nos seus rendimentos. "O governo, de forma inédita em Portugal, aceitou dar as compensações", adianta.
O investigador do CCMAR, diz que elas passam por compensações financeiras, entre 10 20% da perda de rendimento, mas também obras na lota de Armação de Pêra, ou abate de barcos de pescadores mais velhos que já não queiram permanecer na atividade.
Jorge Gonçalves estuda há muito aquela área e garante que o processo tem sido bem democrático, envolvendo associações de armadores e pescadores, Organizações Não Governamentais (ONGs), setor do turismo e associações empresariais da região.
No futuro, o investigador considera que o Parque Natural Marinho da Pedra do Valado, só trará benefícios ao ambiente e a quem vive do mar.
"Vai criar mais biomassa, mais biodiversidade e, portanto, mais rendimento à pesca", assegura. "É uma coisa que nos deve honrar a nós, algarvios, dar este exemplo ao País", afirma.
A Consulta pública da proposta de Classificação da Pedra do Valado como Parque Natural Marinho termina no dia 4 de agosto.
Pescadores divididos
A maior parte das associações de armadores e pescadores considera benéfica a proteção deste habitat marinho, mas não há unanimidade.
"Eu sou uma das pessoas que estou convicto de que, no futuro, haverá contrapartidas positivas", afirma Manuel João Prudêncio. O responsável pela Associação de Pescadores de Armação de Pêra considera que "haverá equilíbrio dos ecossistemas, dos stocks (...) e os pescadores irão beneficiar no futuro com mais capturas e mais rendimento".
No entanto, não há concordância total no setor. A Quarpesca critica o processo.
"Acredito mesmo que, se auscultarmos todos os pescadores que operam naquela zona, a maioria é contra aquela área", garante Hugo Martins. O presidente da Associação de Armadores e Pescadores de Quarteira (Quarpesca) coloca à cabeça três reivindicações para que a área protegida funcione sem contestação: que os barcos de arrasto pesquem para lá das 8 milhas na zona do recife," para que a pequena pesca possa operar na parte de fora da zona que se quer proteger", ou seja, entre as seis e oito milhas.
A Associação pede também que se possam abater barcos e que as compensações financeiras sejam alargadas a mais pescadores.